Dimensionando o otimismo

22/09/2017

Antes de emitir uma opinião a respeito da precificação na bolsa, é importante sabermos onde estamos em termos de "valuation". No gráfico abaixo, preparado pelo banco Credit Suisse (CS) no fim de agosto, temos a relação Preço/Lucro projetada para os próximos 12 meses e seu histórico. Na data de confecção de tal relatório, o Ibovespa encontrava-se próximo a 68.500 pontos e o CS mantinha-se "underweight" com relação as perpectivas para a bolsa brasileira, com um preço alvo para o indicador na faixa de 74.000.

Ao atualizarmos tal precificação para a o nível atual do Ibovespa (assumindo o denominador - lucro por ação - constante), chegamos a um P/L Projetado de aproximadamente 13,5x, acima da linha vermelha do gráfico, ilustrando que a atual precificação está bem acima da média histórica. O mercado, naturalmente, se antecipa a movimentos. Como podemos ver no próprio gráfico, tivemos um movimento de antecipação no começo de 2015 diante do otimismo do mercado com as políticas de Joaquim Levy, mas este foi rapidamente frustrado pelos acontecimentos do segundo mandato do governo Dilma Roussef. Já em 2016, tal P/L projetado ficou bem acima da média histórica por um bom tempo, e este comportamento provou-se justo, pois foi seguido do crescimento no lucro das empresas, o que provocou uma elevação no denominador da relação de P/L, e uma conseqüente redução em tal indicador.

Comentar sobre o que passou é sempre muito fácil. Olhar para frente e dizer se o movimento recente será seguido por um comportamento semelhante ao de 2015 ou ao de 2016, é a pergunta de um milhão de dólares.

Hoje, a jornalista Claudia Safatle, sempre muito bem informada, nos trás, de forma surpreendente, um cenário mais otimista. Ela afirma ver um cenário no qual a relação dívida bruta/PIB do país atingiria, em seu ápice, o patamar de 79% em 2022. Depois disso, ela recuaria para 75% em 2026. Claudia indicou que tal trabalho foi preparado pela Ibiúna Investimentos.

Creio, entretanto, que qualquer previsão neste sentido, em um momento de indefinição política que estamos vivendo, não tenha muita validade. Conforme mencionei nesta semana, experts como Gustavo Franco, Eduardo Loyo e Afonso Bevilaqua, em evento realizado pela B3 há pouco tempo, não demonstraram compartilhar de tamanho otimismo.

Termino a semana lembrando a nossos clientes que este momento em que vivemos me lembra um pouco julho de 1997, um momento de enorme otimismo no Brasil diante de perspectivas de privatização, onde o cenário global se mostrava favorável. Naquela época fomos surpreendidos pela crise asiática. Hoje, temos alguns focos de tensão global: Coréia do Norte, Mar do Sul da China, tensão comercial China-EUA, e outras. Como o cenário de liquidez global está de fato convidativo para um cenário RISK ON, sugiro aos investidores mais conservadores a compra de uma PUT DEFENSIVA. O custo de tal proteção neste momento não está muito elevado. Além disso, como bem colocado por Eduardo Loyo no evento da B3 em Campos de Jordão: O melhor momento para se consertar o telhado é quando o dia está ensolarado.

Marink Martins, CNPI

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