Downgrade! E agora?

12/01/2018

Caso tal evento tivesse ocorrido no fim de dezembro, como muitos esperavam, arriscaria dizer que provavelmente seria um "non-event". Este é um tipo de evento que, historicamente, é bem telegrafado pelos mercados.

Entretanto, duas semanas se passaram. E que semanas! Embalado por notícias positivas da China, Europa e EUA, vivemos um dos mais belos começos de ano; pelo menos para os comprados em ações. E é justamente esta condição de "overbought" (otimismo exacerbado) onde a reside a vulnerabilidade de curto prazo.

Nesta manhã temos diversos indicadores de renda variável global sinalizando uma continuidade do movimento de alta. Números recém-divulgados da balança comercial da China nos mostra que estamos bem posicionados como fornecedores de matéria prima.

Para um mercado míope, que só olha para seu umbigo, isso é bom. A China continuará a comprar o nosso rico minério de ferro, a nossa carne, e muitas outras commodities. Contudo, o acrônimo BRIC, inventado por Jim O´neil, faz cada vez menos sentido. Passamos a ter uma classificação de risco igual a de Bangladesh. Desculpem os ufanistas, mas o Brasil é uma vergonha.

Mesmo assim, a ampla liquidez global faz com que o risco-Brasil, medido pelo CDS de 5 anos, esteja na mínima, em 146 pontos base. Este mesmo CDS que subira de 220 bp para 270 bp no dia 18 de maio de 2017, com receio das gravações de Joesley Batista. O que mudou de lá para cá em termos estruturais?

No que diz respeito a reformas, muito pouco. Já no que diz respeito ao mundo corporativo, tivemos evidências de que nossas principais empresas se encontram mais sólidas após um longo período de adversidades.

Quanto a abertura dos mercados de hoje, provavelmente vou te decepcionar ao não tentar prever sua direção e magnitude. Porém, aproveito para dizer que eventos como estes, mesmo que dolorosos, são úteis para nos mostrar se estamos no caminho certo quanto a nossa estratégia de investimentos.

Se você não dormiu esta noite preocupado com a sua posição, você provavelmente está sentado em uma posição especulativa. Não há nada de errado nisso, afinal, no curto prazo, tudo é especulativo. O problema maior, como sempre, é o nível de alavancagem.

É a alavancagem que nos tira do "game"! A cada ano que passo nos mercados mais me convenço que o tamanho da aposta é o fator mais importante para a nossa sobrevivência neste mundo. Por tudo isso, avalie o tamanho de sua posição. Caso o mercado venha cair, não se deixe seduzir pela tentação de que esta é a última oportunidade de compra de sua vida. Estamos no início de um ano eleitoral, e veremos muitos "sobe e desce" dos mercados.

Finalizo aqui reiterando a minha maior preocupação nesta sexta-feira: são tantas as notícias positivas afetando os mercados globais que seus efeitos marginais começam a diminuir. O "vendido" está intimidado, e normalmente, é ele o responsável pela alta. As previsões para o índice S&P500 para o fim de 2018 variam de 2.700 pontos (Wells Fargo) a 3.100 pontos (UBS). Já estamos encostando nos 2.800. Too much, too fast!

Já por aqui, se de fato a alocação de fundos de pensão e institucionais na renda variável está muito baixa, eles virão para o resgate e aproveitarão a oportunidade. Mas, não se esqueça de uma coisa: Não existe ação sem dono. Para cada investidor sub-alocado pode haver um investidor tenso e preocupado com seu excesso de alocação.

Um bom fim de semana a todos,

Marink Martins, CNPI

www.myvol.com.br

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