Drenos de liquidez

15/01/2018

Assim como a vida, os mercados são marcados pela ambiguidade. Justamente ao lado da euforia reside, de forma calada, o potencial da calamidade.

Não há dúvidas que vivemos um momento de enorme euforia, habitando uma zona conhecida como "goldilocks" ("cachinhos dourados"). Nesta fase os participantes desta festa global, que parece não ter fim, encontram-se um tanto anestesiados, rindo de qualquer piada. Há bastante gente e os recém-chegados unem-se a multidão sem sequer ter noção de quem seja o verdadeiro anfitrião.

Os donos da festa estão cansados como se estivessem no nono "inning" de um jogo de beisebol. Trocam olhares com o DJ, que de longe, tenta decifrar se é hora de colocar aquela playlist final, que não só leva o público ao delírio, mas que também traz consigo o início do fim.

Convido você a participar do nosso primeiro encontro deste ano que acontecerá na próxima quinta-feira, dia 18/1, as 18:30, no Espaço Paulista, em São Paulo. Na ocasião vou fazer uma apresentação rica em dados econômicos globais. Inscreva-se enviando uma mensagem para marketing@br.icap.com

Naturalmente, falo aqui do longo "Bull Market Global" que caminha para seu nono ano. Os donos da festa, os bancos centrais, não só esbarram em seus limites estruturais, mas observam sinais de que a euforia poderá rapidamente sair de controle. Afinal, o líder norte-americano, em um impulso populista, promove uma mega-redução de receita fiscal (corte de impostos), sem os devidos cortes de custos. Cálculos oficiais (do CBO) já apontam para um déficit fiscal nos EUA superior a 5% em 2027.

Mas, com 53% da população norte-americana comprada em ações, está todo mundo anestesiado, achando graça da piada. Não é uma ironia o fato de que os EUA vivem uma tremenda crise de opioides.

O problema deste enorme déficit fiscal que se acumula na "matriz" pode ser empurrado com a barriga, mas ficará evidente com o passar do tempo. Junto a isso, a euforia dos mercados traz consigo os IPOs, que de forma dissimulada, tendem a chegar sempre no fim da festa. E aqui estamos falando de mega-IPOs. Além da Saudi Aramco que deve promover o maior de todos os tempos, teremos outros de grande porte. Só o Softbank do Japão já disse que espera levantar US$18bi nos próximos meses.

IPOs drenam a liquidez dos mercados! Assista o vídeo em que falo sobre o IPO da Saudi Aramco (https://youtu.be/8XWlKdNvrco)

Quem tende a fazer isso também é o preço do petróleo. Pela primeira vez, desde 2014, o mundo voltará a conviver com uma espécie de imposto global materializada na forma de um preço do petróleo elevado. E não ache que seja uma coincidência o fato do preço do petróleo estar subindo justamente na mesma época em que banqueiros salivam para participar da mega operação saudita.

Tudo isso, combinado com "apertos quantitativos" que estão por vir dos principais bancos centrais, irão, aos poucos, minar o ímpeto dos "festeiros".

Os otimistas, por sua vez, dirão que tudo isso só ocorre justamente por que as economias estão crescendo. Não só crescendo, mas também de forma sincronizada.

É justamente aí que mora o perigo!

Marink Martins, CNPI

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