É a CORRELAÇÃO, idiota!
Tomo emprestado o formato da famosa expressão do estrategista da campanha presidencial americana de 1992 (It´s the economy, stupid), aquela dita por James Carville e que levou Bill Clinton ao poder, para fazer uma brincadeira e explorar uma tese sobre o porque da volatilidade do índice S&P 500 estar tão baixa. Tal volatilidade, medida pelo, por aqui já famoso VIX, vem registrando novas mínimas históricas (abaixo de 10%) e deixando muitos analistas confusos e receosos de que agentes de mercado possam estar demonstrando um elevado grau de complacência. Sem desmerecer de forma alguma a tese sobre a complacência presente nos mercados, noto ao assistir diariamente a programação da CNBC, que muitos analistas comentam sobre o VIX sem sequer mencionar um fator determinante em seu cálculo: a correlação entre as partes. Enquanto a volatilidade implícita associada a opções de uma determinada ação (da Apple, por exemplo) é um resultado direto de expectativas do mercado quanto a futuras oscilações de preço destas ações, a volatilidade implícita associadas a opções de um determinado índice (do índice S&P 500, por exemplo) deriva não só de expectativas de oscilação futura no preço das ações de seus componentes, MAS TAMBÉM da correlação futura entre tais preços. E ao pensar nisso e analisar de perto a atual situação, é possível concluir que boa parte do recém achatamento do VIX pode ser atribuído a recente queda em tal correlação. Os gráficos a seguir são ilustrativos de tal movimento:
Tais gráficos foram preparados com base em informações fornecidas pelo CBOE e ilustram o comportamento do índice S&P 500, da Correlação entre seus componentes, e o VIX, desde novembro/2015. De uma forma crua, é possível olhar para a volatilidade implícita das opções das 20 maiores empresas do S&P e concluir que suas respectivas "VOL" estão relativamente próximas aos mesmos níveis registrados há um ano (talvez um pouco mais baixas). Mesmo que haja uma queda, esta é certamente inferior àquela registrada pelo VIX. Diante de tal constatação, resta ao mercado a solução de um outro enigma: Por que encontra-se tão baixa a correlação entre os componentes do índice S&P 500? Tal pergunta é certamente complexa, e dado que tal nível de correlação é a mais baixa de sua série histórica, especulo que, em parte, seja fruto do maior uso de ETFs por investidores americanos. (este é somente o meu chute!) A verdade é que, de um tempo para cá, o mercado americano vem vivendo um movimento de rotação setorial muito forte; algo tipo, sai tech entra bancos, sai bancos entre petrolíferas, sai petrolíferas entra biotech, sai biotech entra tech, e por aí vai. De qualquer forma, concluo este Comentário convidando o leitor mais curioso a olhar para os dados de correlação publicados diariamente pelo CBOE como uma forma de se obter uma melhor compreensão sobre o atual momento da bolsa americana.
Marink Martins, CNPI