E se o dólar não cair?

20/01/2021

Hoje é dia de estreia nos EUA. Inicia-se a era Biden com o seguinte pensamento: "Go Big" ou "Go Home"!

Embora Janet Yellen não tenha mencionado a segunda parte ("Go Home") em seu discurso de ontem, esta expressão, conhecida no meio esportivo, vem sendo citada na mídia financeira. É uma espécie de tudo ou nada que, no mundo econômico, ganhou espaço na última década. Não devemos nos esquecer que Mário Draghi disse o famoso "We will do whatever it takes..." (faremos o que for necessário... para salvar o euro era o que estava implícito na fala...).

E não é que o euro ainda está aí, aparentemente firme e forte, valendo mais do que 1,21 dólares. Bem, pelo menos é isso que o valor nominal nos mostra.

O ano de 2021 talvez seja o ano da vacinação; o ano da normalização da economia no mundo desenvolvido. Essa é a aposta que está em curso, marcada por uma apreciação dos ativos de risco e um enfraquecimento da moeda americana.

Há, no entanto, razões para duvidarmos que este processo de normalização - caso se materialize - siga um "script" suave como um filme de sessão da tarde. Há quem acredite que está mais para um drama pesado.

O gráfico abaixo ilustra o total dos investimentos estrangeiros nos EUA (dados do 3T20) e nos ajuda a entender quão dolarizada é a economia global.

Como podemos ver na imagem acima, o mundo tem quase 24 trilhões de dólares investidos em ativos líquidos nos EUA. Curiosamente, a pandemia foi incapaz de inibir a atratividade do mercado acionário americano.

Acreditar que o dólar americano irá perder valor relativo de forma expressiva talvez exija conceber a ideia de que o poder de compra do consumidor americano também irá sofrer.

Para que isso ocorra, talvez seja necessário que uma outra região do mundo desempenhe esse papel. Embora a China esteja em transição, trata-se de um processo que deverá envolver alguns anos.

Sendo assim, a mensagem que eu busco transmitir neste texto é que esta narrativa de "melt down" (derretimento) da moeda americana é uma que colide com a dinâmica cambial dominante. Aqueles que acompanham o pensamento de Brent Johnson associado a "teoria do milk shake para o dólar" sabem do que estou falando.

E o que tudo isso tem a ver com a bolsa brasileira? Bem, não só os ativos brasileiros, mas também os ativos de outros emergentes, se valorizaram bastante tomando como base uma expectativa de dólar mais fraco e maiores fluxos de recursos. Assim, um cenário que vá em direção oposta, com um dólar estável ou, até mesmo se valorizando, poderá resultar em uma reversão deste processo de valorização nos próximos meses.

Marink Martins

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