E se o mundo desenvolvido estiver transitando para um ciclo inflacionário?

25/03/2018

Desde a crise do petróleo nos anos 70, o mundo desenvolvido vive um longo período desinflacionário. Durante esse período, ativos de longa duração, como títulos de dívida de longo prazo e ações, brilharam.

Em meio a tantas influencias marcantes ao longo deste longo período que já supera 30 anos, podemos destacar dois eventos que foram determinantes para que convivêssemos com uma inflação declinante: O processo de globalização pós-queda do muro de Berlin e o crescimento econômico chinês.

Existem alguns sinais, embora não tão claros assim, de que podemos estar chegando ao fim deste longo ciclo desinflacionário. Charles Gave, um dos estrategistas mais experientes do mundo, associado a Gavekal, desenvolveu ao longo de muitos anos, algumas ferramentas que o ajudam a detectar tais transições.

Uma destas ferramentas importantes é a relação entre o preço do ouro dividido pelo preço de títulos de renda fixa de longo prazo denominados em dólar. Note pelo gráfico abaixo que tal relação vive um momento que merece uma atenção especial.

Quando o mercado, por uma razão ou por outra, começa a preferir ouro em relação a tais títulos, tal atitude pode ser interpretada como uma manifestação contra o preço do dólar no futuro.

Bem, quem acompanha os meus vídeos no myvol.com.br já deve ter notado o quanto venho falando sobre os problemas fiscais norte-americanos.

Recentemente, o custo do dinheiro no mundo desenvolvido, medido pela LIBOR vem subindo. Uma das razões para tal movimento é justamente uma nova dinâmica nos mercados associada ao fato de que os EUA estão tendo que captar mais recursos para pagar seu enorme endividamento.

Mas, e se o mundo, de fato, estiver transitando para um ciclo inflacionário, quais seriam as repercussões em termos de alocação de ativos?

Busquei adaptar um "framework" preparado por Charles Gave, levando em consideração ativos disponíveis no mercado brasileiro. Embora as simplificações sejam perigosas ("lembre da cama de Procusto de Nassim Taleb"), elas muitas vezes nos ajudam a organizar nossos pensamentos.

Dito isso, busque entender através da imagem abaixo possíveis consequências de uma eventual transição para um período inflacionário.

Em ambos os caso onde há inflação, investidores devem reduzir o prazo de seus investimentos, saindo das NTN-Bs e LTN longas e ações mais arriscadas. Devem privilegiar o Tesouro Selic, commodities e, se quiserem ficar com um percentual em ações, que privilegiem ações de empresas defensivas.

O Brasil vem andando na contramão do mundo. Por aqui não há sinais de inflação. Por isso, os otimistas acreditam que ficaremos no quadrante inferior à direita por um longo período.

Uma grande dúvida, entretanto, é o que acontecerá com as ações brasileiras caso o mundo desenvolvido entre em um ciclo inflacionário.

Marink Martins 

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