Eles só querem saber de mercados emergentes!

25/09/2017

Com oito anos de alta consecutiva no índice S&P 500, investidores globais sabem que, em algum momento, este longo "bull-market" norte-americano sofrerá alguma forma de interrupção. Se haverá um "crash" ou se o mercado passará por um longo período de performances pífias, isso é, por definição, imprevisível. O ponto é que, já antecipando tal movimento, cresce o interesse no varejo norte-americano por investimentos alternativos; dentre eles, o interesse por mercados emergentes.

Meb Faber, gestor da Cambria Investments e "host" de um famoso "podcast" chamado "The Meb Faber Show", sempre chama atenção para uma característica do investidor norte-americano que ele denomina como "home country bias", ou a tendência do investidor local de investir em títulos e ações de seu próprio país. Nada mais natural, pois o mercado americano, além de ser o maior do mundo, vem registrando performances superiores à média global. De acordo com Meb, os americanos investem entre 75% e 80% de seus recursos em ativos denominados em dólar; um percentual bem superior a fatia norte-americana no mercado global de ações (53,2% em 2016).

Diante deste fato, não só o Meb, mas grande parte da comunidade de "investment advisors" clama por uma maior diversificação; uma direcionada a mercados emergentes, que, na média, possuem "valuations" bem mais atrativos do que os domésticos.

Na semana passada, ao divulgar dados do segundo trimestre conhecidos como "funds-of-flow data", o banco central americano nos informou que a alocação dos recursos das famílias norte-americanas para o mercado de ações encontra-se próxima a máxima histórica.

Como podemos ver no gráfico a seguir, a preferência dos americanos por ações se assemelha àquela vista lá trás, no fim dos anos 90. Embora saibamos como aquele ciclo terminou, é notório também que há inúmeras diferenças entre os períodos em questão. Não só as taxas básicas de juros estão bem menores, mas os BCs mundiais aprenderam que crises podem ser combatidas com estímulos quantitativos. As técnicas vastamente utilizadas pelo BC japonês, embora muito criticadas há 17 anos, hoje é lugar comum.

Não é a toa que o patrimônio líquido das famílias americanas cresce ao mesmo tempo em que a performance de investidores institucionais vai ficando cada vez mais diminuta. Os últimos anos foram marcados por um acalorado debate entre o mérito de estratégias ativas versus passivas. Em um cenário um tanto distorcido pela presença maciça dos Bancos Centrais atuando no mercado via ETFs, com "valuation" nas alturas, é natural que a racionalidade dos investidores institucionais seja, de certa forma, penalizada.

Como conseqüência destes fatores, vemos uma intensa migração de recursos de fundos mútuos para ETFs. De acordo com Meb Faber: mais do que uma migração de fundos ativos para fundos passivos, o que vemos é uma preferências por fundos de baixo custo. Pudera! Cobrar 2% de taxa de administração quando o "fed funds" era 6% é uma coisa, agora cobrar tal taxa em um ambiente de "fed funds" de 1,25% é outra completamente diferente.

Para aqueles que ainda não foram convencidos da distorção provocada pelos Bancos Centrais, apresento os quatro gráficos abaixo ilustrando dados do balanço do BC japonês (BOJ). O "Fig 5" ilustra o total de ativos em ienes; o "Fig 6" a participação do BOJ no mercado de renda fixa japonês; o "Fig 7" os ativos do BOJ com relação ao PIB japonês; e por último, o volume em ienes de títulos corporativos e ETFs.

Retomando o tema principal deste comentário, diante de tamanha de distorção e elevado "valuation", nada mais natural do que esperar retornos menores para os próximos anos. No gráfico abaixo, temos a relação entre o percentual de alocação de recursos das famílias norte-americanas para a renda variável, com os retornos subseqüentes para períodos de 6 a 10 anos.

Como dizem os poetas, se a história não se repete, pelo menos rima.

O gráfico claramente indica que os anos a seguir tendem a registrar retornos bem menores.

Por isso, os "advisors" só querem saber de falar em mercados emergentes. Mas quais mercados? Os asiáticos? Os do leste europeu? Os da América Latina? Vamos explorar esta diferenciação nos próximos comentários.

Aproveito, entretanto, para os convidar para o nosso encontro amanhã, no Espaço Paulista, para discutirmos estratégias em um mundo onde os retornos tendem a ser bem menores do que os registrados nos últimos anos. Se inscreva enviando uma mensagem para marketing@br.icap.com

Marink Martins, CNPI

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