Em defesa da especulação

02/07/2019

Na semana pude acompanhar um fascinante debate promovido pelo Banco BTG Pactual entre André Jakurski (JGP), André Esteves (BTG Pactual) e Rogério Xavier (SPX). Embora tanto Jakurski como Xavier representem duas das mais proeminentes gestoras de recursos brasileiras, é notório que a paixão de Jakurski está na especulação.

Ganhar dinheiro rápido em uma rápida sequência de operações de curto prazo é algo que, socialmente, desperta sentimentos alheios negativos. Não é à toa que a palavra especulação vem sempre acompanhada de um tom pejorativo, principalmente quando dita por aqueles que nunca se expuseram a uma situação de risco nos mercados.

Na hierarquia ética dos investimentos, aqueles que calculam o valor presente de um fluxo de caixa projetado por 10 anos ocupam um lugar no "céu ou inferno" bem mais interessante do que os especuladores que, a princípio, nem sequer se dão ao trabalho de preparar uma planilha decente. Não tem nada mais ofensivo ao OUTRO do que te ver ganhando dinheiro rápido, "sem esforço"!

Gosto sempre de falar sobre a diferença entre fazer força e trabalhar.

E aqui, tomando como analogia a própria física onde Força = massa x aceleração, enquanto W (trabalho) = Força x deslocamento, vi que passei anos fazendo muita força sem qualquer êxito no quesito deslocamento.

Como questionou o querido rabino Nilton Bonder em sua obra A Alma Imoral: "E quantos de nossos esforços e sacrifícios são, na verdade, 'oferendas' ao nada?" Bonder, naturalmente, falava da vida, mas eu adoro trazer estas falas para o ambiente de mercado.

Acordar cedo, ler todos os jornais e livros, certamente contribuem para um crescimento intelectual, mas não garantem, de forma alguma, êxito nos mercados.

Para isso é necessário método. É necessário ser um "moving target" (um alvo móvel). Afinal, eles estão sempre atrás do seu dinheiro. Não preciso dizer aqui quem são "eles". Você os conhece!

Tudo isso pode parecer bem arrogante da minha parte, como se eu tivesse descoberto o segredo do sucesso. Não é isso. Vivo em uma busca sem fim. Ainda passo muito tempo fazendo "Força"; muitas vezes sem obter "deslocamento" algum.

Dito isso, posso te afirmar que mesmo com uma formação em finanças corporativas, mesmo já tendo acompanhado por muitos anos o tal "mago" do "valuation" - Aswath Damodaran - não vejo tais esforços de mensuração de valor como algo superior. Trata-se simplesmente de um caminho. Um caminho muitas vezes mais sofisticado, mas simplesmente mais um caminho em busca de alguma vantagem competitiva.

E nesse sentido, muitas vezes o importante é buscar os caminhos não percorridos no mercado; ou, pelo menos, os que ainda sejam percorridos por poucos. Se é impossível detectá-los que pelo menos optemos por um que não seja tão competitivo. Afinal, a competição é algo que não faz bem a sua capacidade de gerar lucros.

Assim, concluo este texto afirmando que há casos em que é melhor ser um especulador solitário em um determinado ativo do que "bater de frente" com uma multidão de "visionários" em busca de uma transformação digna de fazer com que uma empresa ou um país mude de patamar.

Marink Martins

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