Enquanto aguardamos o fluxo

14/01/2019

O otimista com as perspectivas para as ações listadas brasileiras o é principalmente por acreditar que um choque de liberalismo econômico no Brasil irá destravar um enorme fluxo de recursos destinados ao país que, por consequência, deverá elevar de forma significativa os preços dos ativos negociados por aqui.

Tal tese faz sentido na medida que no passado o percentual dos ativos globais alocados ao país já fora bem mais expressivo.

Como exemplo, pode-se citar que, durante os anos 90, o peso dos ativos brasileiros, de forma agregada, correspondia ao primeiro lugar entre os países que faziam parte da carteira de mercados emergentes compilada pela MSCI. Na ocasião, o peso do Brasil era superior a 13%.

Com o advento do "milagre chinês" e crescimento econômico de diversos países asiáticos ao longo dos últimos 20 anos, tal situação mudou drasticamente e o país viu seu peso ser reduzido para um patamar inferior a 8% dentro deste índice que é um "benchmark" para todos que investem em mercados emergentes.

O que muitos não consideram, entretanto, é que desde de 2010, apesar de todos os problemas políticos e macroeconômicos enfrentados por aqui, o país está consistentemente entre os países que mais recebem Investimento Direto Estrangeiro (IDE).

No gráfico abaixo, preparado pelo Credit Suisse, temos uma boa ilustração sobre como tal fluxo vem contribuindo para a estabilidade da moeda.

Observe as barras azuis no gráfico. O volume de IDE tem sido superior a 4% do PIB brasileiro, o que corresponde a valores superiores a 70 bilhões de dólares por ano.

Tais recursos normalmente são direcionados a projetos de infraestrutura e privatizações.

Trago tais informações aqui com um simples objetivo de chamar atenção aos otimistas em demasia que, ao contrário do que muitos pensam, o Brasil nunca foi deixado de lado pelo resto do mundo.

Está certo que, do ponto de vista de investimentos em ações e renda fixa, vimos um recuo nos últimos anos com a deterioração na classificação de risco do país e queda na lucratividade das empresas.

Há, sem dúvida, a possibilidade de maiores entradas de recursos de curto prazo no país em caso de aprovações de reformas.

Dito isso, o investidor deve ter em mente que é baixa a probabilidade de que o país venha a ganhar muito espaço na carteira para mercados emergentes da MSCI.

Uma das razões para isso dá-se ao fato de que a carteira vem se adequando a um maior peso destinado as ações chinesas. Hoje, o gigante asiático conta com um peso de 30% e especula-se que tal peso deverá crescer para 50% nos próximos anos. 

Por tudo isso, se você está entre os mais otimistas com as perspectivas brasileiras, é uma boa hora para rever alguns conceitos e entender que diante das inúmeras incertezas globais, uma posição tática em Brasil talvez seja mais interessante do que uma estrutural. Em outras palavras, caso o ímpeto altista se intensifique, considere embolsar metade do lucro.

Marink Martins

www.myvol.com.br