Esperando para ver!

08/01/2019

Retorno hoje de férias sem, na verdade, nunca ter me desconectado totalmente dos mercados.

Passei duas semanas em viagem aos EUA com a minha filha mas continuei posicionado nos mercados, gerenciando tanto o Global Pass como o Clube dos Ganhos Absolutos. Para isso, entretanto, contei com o apoio da minha assistente, Mariana, que me manteve informado de tudo que ocorria por aqui.

E que duas semanas foram essas!

Saí daqui com o mundo parecendo que iria acabar e retorno como se todos os problemas tivessem sido resolvidos.

Bem, de volta ao meu ceticismo de praxe, e munido de algumas informações que obtive conversando com os estrategistas da Gavekal, o que temos é de fato uma busca por acomodação por agentes de mercado que ficaram "perdidos" diante de eventos recentes. E que eventos são esses? Abaixo, menciono alguns dos eventos afetando a dinâmica dos mercados:

  • Impasse nas questões comerciais entre EUA e China
  • Dúvidas quanto a independência do FED
  • Impasse que paralisa o governo americano.
  • Diversas manifestações ao redor do mundo, em especial na França.
  • Receio dos agentes quanto ao impacto na precificação de uma eventual crise em um mercado dominado por ETFs e algorítimos de alta frequência.

Tudo isso pode parecer datado para aquele investidor que vem surfando a tendência de alta dos ativos brasileiros. A tendência de alta certamente se intensificou desde a posse de Jair Bolsonaro e a mídia financeira não faz outra coisa se não divulgar que o trem vai partir e você não pode ficar de fora.

É justamente nesta hora que devemos ser fortes e fazer uso da experiência adquirida para avaliar de forma objetiva o contexto atual.

Primeiramente, vamos ao externo.

Observe que o VIX - medida associada a expectativa de volatilidade do índice S&P 500 - atingiu sua máxima no recente ciclo ao redor do natal. Isso definitivamente não é normal.

Tal situação demonstra a vulnerabilidade dos mercados diante de um dos fatores mais importantes nos mercados: a sua liquidez.

Donald Trump disse que tal evento se tratou de um "Market glitch"! Será? Penso que só o fato de o presidente da república dos EUA estar abordando tal assunto, por si só, já é um problema. É impressionante como o próprio Trump parece atrelar o sucesso de seu governo ao comportamento dos mercados. Uma tolice!

Das mínimas registradas durante o natal até hoje, observamos um mercado que já se apreciou aproximadamente 10%.

A taxa de 10 anos dos títulos do tesouro norte-americano despencou para 2,7%, e a mídia busca passar a percepção de que a economia americana continuará a crescer a um ritmo mais próximo de 2%, em ritmo de "pouso suave".

Neste sentido é importante destacar que a alta registrada nos últimos dois dias foi impulsionada pelo debate calmo e construtivo dos últimos 3 líderes do FED (Powell, Yellen e Bernanke) na última quinta-feira.

A expectativa do mercado agora é de que o FED não irá subir a taxa do FED Funds e que irá cortar a taxa básica de juros em 2020. O gráfico abaixo é ilustrativo do distanciamento entre as expectativas delineadas pelo FED e por agentes do mercado:

No gráfico acima, vemos que, embora o FED sinalize que realizará 2 ajustes na taxa básica da economia durante o ano de 2019, o mercado prevê que não haverá aumento algum durante o período. Tal descompasso deverá gerar volatilidade nos próximos meses.

Hoje, Trump discursará diretamente a população americana a respeito da paralisação parcial do governo americano. O impasse é enorme pois é ilustrativo da crescente polarização política nos EUA.

Por tudo isso, julgo que neste processo de busca por acomodação que venho comentando por aqui, é preciso ter em mente que conforme o índice S&P 500 se aproxima de patamares próximos a 2.580, este enfrentará fortes resistências. Tal patamar representa a mínima registrada durante o conturbado mês de fevereiro do ano passado.

E o mercado local?

Certamente em tendência de alta com elevado "momentum"!

Dito isso, é importante destacar que o preço das ações da Petrobras subiu aproximadamente 20% desde a mínima registrada durante o natal. Ontem, diante de notícias publicadas no Valor a respeito da expectativa de valor associado a cessão onerosa, o preço subiu no vazio e recuou de forma expressiva.

De forma análoga, o preço das ações do Banco do Brasil, após alta expressiva, está vulnerável a um iminente movimento de realização de lucros em caso de um recuo no mercado externo ou frustrações com relação as perspectivas de reformas.

Por tudo isso, começo o ano com a seguinte mensagem:

Se você comprou nas mínimas do natal, coloque 50% no bolso. Se não, espere um pouco. Vamos observar o posicionamento do governo Bolsonaro quanto a reforma da previdência assim como o desenrolar da paralisação do governo americano.

Temos um mercado que vem se apreciando, em parte, no grito. Seja ele no que diz respeito as negociações entre EUA e China, seja ele no que diz respeito as expectativas de reformas no Brasil.

Vamos aguardar.

Marink Martins

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