Essa bolsa é dos jovens

18/11/2020

Recentemente ouvi de Jim Cramer que ações hoje representam escassez, reserva de valor. Não havia ironia em sua fala, mas sim uma aceitação de um novo "zeitgeist" - o espírito da época.

São diversas as mudanças comportamentais entre as gerações que habitam a bolsa de valores. Aqueles que iniciaram a sua jornada em 2016 acostumaram-se a eficácia do caiu/comprou ("buying on dips"). Desconfiam de indicadores como Preço/Lucro, Valor da Firma/EBITDA e adoram um IPO.

A verdade é que o mundo mudou. Os governos se tornaram extremamente endividados e entramos em uma fase em que os juros são mantidos artificialmente baixos por necessidade fiscal.

Questões demográficas, tecnológicas e estruturais (globalização) contribuíram para níveis de inflação baixos que, não só facilitam a vida dos governantes, mas também contribuem para formação de bolhas de ativos.

Neste cenário, nada melhor do que um jovem qualificado para "surfar" essa onda de valorização de ativos. Só um jovem, com sua ousadia e "ignorância natural" (associada a falta de experiência) para comprar um ativo negociando a um múltiplo de 10x vendas.

Aqueles que viveram um período em que crises globais coincidiam com fugas de capitais que eram combatidas com elevação de juros sabem quão dramático pode ser um cenário de compressão de múltiplos.

Não preciso nem voltar aos anos 90 ou a crise asiática ou o início do milênio (após o estouro da bolha do Nasdaq). A própria Magazine Luiza - estrela dos últimos anos - viu seu valor de mercado cair 90% entre a data de seu IPO em 2011 e a crise brasileira de 2015.

Nos últimos dias a bolsa mostrou forte recuperação em meio a uma forte rotação que vem finalmente privilegiando ações de empresas tradicionais como Petrobras, Vale, Ambev e outras. Atualmente o IBOV negocia com um múltiplo de P/L (projetado para 2021) entre 16x e 17x. Um patamar historicamente alto.

É crescente o fluxo de recursos para mercados emergentes. É possível que este fluxo continue a vir e contribua para que o IBOV se recupere ainda mais. Contudo, não devemos esquecer que, neste "zeitgeist" -- onde muita coisa parece de cabeça para baixo - as correções tendem a ser mais abruptas. Talvez agora seja hora de mesclar a ousadia do jovem com a cautela dos mais experientes.

Marink Martins

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