Estamos definitivamente na era das narrativas

17/01/2018

Já falei isso por aqui. Na ocasião mencionei que o que sustenta o preço das ações da Amazon, da Tesla e muitas outras, é uma bela narrativa articulada por pessoas que, devido ao seu talento e subsequente riqueza, foram transformados em semi-deuses.

Há um tempo, passei um longo fim de semana com a minha filha assistindo de forma compulsiva na Netflix a série Once upon a time (Era uma vez). A narrativa é tão bem articulada que, depois de um tempo, você começa a pensar em universos paralelos.

Ontem li no Valor Econômico uma reportagem que mencionava a possibilidade do Ibovespa atingir algo próximo a 425.000 pontos (170.000 pontos em dólar, com o USD a 2,5) em um intervalo de 5 anos. E um detalhe interessante, é que o autor de tal previsão, um investidor riquíssimo, não vê espaço para valorizações significativas no preço das ações do Itaú. Ele as considera "caras" em termos de múltiplos. Agora imaginem quantas "mudanças na carteira" no Ibovespa seriam necessárias para permitir que tal objetivo fosse alcançado. Juro que esta narrativa daí definitivamente não me convenceu!

Estamos diante de uma fase parabólica de valorização nos mercados globais. Neste período os movimentos altistas tendem a ser mais acelerados e com maior volatilidade. A força de toda esta narrativa acaba convencendo uma parte da população, que por medo de ficar de fora da festa, acaba entrando na hora errada e dando saída aos tubarões.

Dizem que a bolsa brasileira, historicamente, sempre viveu períodos de fortes valorizações após crises. Isso é verdade, mas não podemos esquecer que, ao contrário de outras épocas, começamos este ciclo partindo de múltiplos bem mais elevados. Lembro-me de uma época, época de Ibovespa próximo a 10.000 pontos, que negociávamos a múltiplos de 7x a 8x o lucro. Era um período em que o lucro projetado pouco importava. Nos anos 90, poucos se importavam com as projeções de lucro da Telebras. As condições macroeconômicas reinavam.

Hoje o lucro projetado importa e muito. Nos últimos anos vimos diversos recuos e expansões de preços de diversas ações baseadas no que analistas chamam de "re-rating" (uma espécie de reavaliação de expectativas). Pense no preço das ações da Hering, da Valid, da Magazine Luiza, e também deblue chips como a própria Vale que, após fazer mínima a R$6.50, multiplicou seu valor por 6x. As CONDIÇÕES INICIAIS presentes hoje diminuem de forma significativa o potencial de valorização nos principais indicadores.

Por isso, ao considerar seus investimentos em renda variável devemos sempre avaliá-los vis-a-vis seu custo de oportunidade. Devemos comparar esta alternativa com a opção de um investimento que, mesmo que não seja totalmente livre de riscos, nos apresente maior estabilidade em termos de expectativas, como é o caso de investimentos em títulos públicos através do Tesouro Direto.

E é sobre esta temática que discutiremos amanhã, em São Paulo, no primeiro encontro do ano promovido pela MyCAP. Vou apresentar dados econômicos globais fornecidos por Louis-Vincent Gave, CEO da Gavekal, que irão nos ajudar a compreender as principais questões afetando as decisões de investimentos para 2018. Além disso, levaremos em consideração também prognósticos de alguns economistas da elite brasileira para entendermos as oportunidades no mercado de juros.

Inscreva-se enviando um e-mail para marketing@br.icap.com

Marink Martins, CNPI

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