Evitando os campos de batalha

17/10/2019

Quando o tema é alocação, Louis-Vincent Gave, fundador da Gavekal, é enfático: evite os campos de batalha!

Francês e profundo conhecedor da história global, Louis nos diz que investir nas "blue chips" de tecnologia dos EUA nos dias de hoje é análogo a comprar terra na região de Alsácia - área fronteiriça entre a França e a Alemanha - durante os anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial.

Curiosamente, ontem testemunhei alguns ataques ao setor de tecnologia que me fizeram instantaneamente pensar no conselho de Louis. O primeiro - uma crítica ferrenha a postura da empresa Facebook - veio diretamente do fundador da empresa de software Sales Force, Marc Benioff. O executivo diz que a empresa que reina na mídia social é como cigarros, viciando as crianças e vendendo informações de usuários sem que estes tenham noção do que de fato ocorre por trás das cortinas.

Um segundo ataque veio do veterano John Chambers, um dos fundadores da Cisco Systems, e foi direcionado a empresa Amazon Web Services que é dominante no segmento de computação em nuvem. Seu ataque, entretanto, não foi através da retórica, mas sim, através da formação de uma empresa que tem como objetivo tomar uma bela fatia de mercado daquela que é líder do mercado.

Trago estes exemplos buscando ilustrar um argumento que já explorei por aqui. Nos mercados de capitais, embora os preços dos ativos possam subir ou cair de forma imprevisível, os retornos tendem a reverter à média.

Com base nisso, não é novidade alguma afirmar que os retornos gerados pelas empresas de tecnologia dos EUA estiveram bem acima da média ao longo de boa parte desta década. Com isso, algumas empresas como a Amazon, a Facebook, a Google, a Apple e a Microsoft cresceram tanto que hoje se tornaram um item na pauta de políticos ávidos por ganhar fama ao buscar desmontar estes enormes conglomerados.

Na semana que vem Mark Zuckerberg, fundador da Facebook, enfrentará a ira dos políticos de Washington que desejam barrar seu projeto de criação de uma moeda virtual conhecida como Libra.

Tudo isso não seria tão relevante caso as empresas mencionadas não ocupassem um espaço de tamanha relevância nos mercados globais. A verdade é que nos últimos anos observa-se uma enorme transição de recursos que saem de fundos ativos e caminham para fundos passivos (ETFs) que, em boa parte, estão investidos nas ações das principais empresas de tecnologia do país.

Para o Brasil esta batalha não é necessariamente algo negativo. O país poderá se beneficiar de um maior fluxo de recursos em caso de estagnação da economia americana. O problema desta tese, entretanto, reside no fato de que por aqui vivemos uma batalha relacionada à aprovação de reformas que talvez seja ainda mais cruel do que aquela enfrentada pelos magnatas do setor de tecnologia.

Marink Martins

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