FANG ou de-FANG, eis a questão

28/07/2017


Em junho, discutimos aqui sobre um grande movimento de rotação setorial que ocorrera na bolsa americana no qual investidores trocaram suas ações do setor tecnologia por ações dos setores bancário e de energia. Na ocasião, o índice S&P 500 estava por volta de 2.430 pontos. Ontem, o setor de tecnologia sofreu um novo ataque por vendedores mais ansiosos. Desta vez, entretanto, os compradores ficaram "calados"; pelo menos foi o que ocorrera durante 30 minutos, logo após o almoço. Justamente no dia mais agitado em termos do número de empresas divulgando seus resultados do segundo trimestre, marcado pela divulgação do resultado da Amazon, Starbucks e outras, as forças afetando o mercado penderam para o lado da venda. A verdade é que há um desconforto por parte de investidores no que tange ao "valuation" das principais ações do índice Nasdaq 100. Tais ações são globais, conhecidas por todos, e quatro delas já atendem pelo acrônimo FANG (Facebook, Amazon, Netflix, Google), em um sinal de modismo que, como sempre acontece, irá passar. Agrupar tais ações desta forma, nos faz pensar no acrônimo BRIC criado por Jim Oneil, da Goldman Sachs, durante a década passada, e que, olhando a posteriori, vemos que não fazia o menor sentido. De qualquer forma, segue uma tabela que pode nos ajudar a obter uma melhor compreensão a respeito do atual fenômeno:

Na tabela acima, o que mais me chama atenção são as três últimas colunas mostrando a relação do preço da ação com relação ao lucro do último ano, do próximo ano, e a taxa de crescimento. Se fossemos comparar ao falecido BRIC, a empresa Facebook seria uma forte candidata a ser a China. Ela não só cresce a uma taxa fenomenal, mas também opera com uma margem líquida digna de provocar inveja a muitos oligopólios atuantes em países subdesenvolvidos. Das quatro empresas acima, a mais problemática em termos de "valuation" é a Netflix. Digo isso, pois além de estar negociando ao maior dos múltiplos de P/L Projetado, opera com baixa margem operacional e já vem sofrendo ataques de concorrentes de peso como a Amazon. O otimista e posicionado nas ações da Netflix reza todos os dias para que a Disney faça uma proposta de compra pela empresa, pagando um prêmio de 30% sobre o preço de suas ações. Seria, certamente, uma bela saída. Ao ouvir a discussão na CNBC sobre o resultado divulgado pela Amazon, não me surpreendi com os otimistas clamando que o que vale mesmo é crescimento de receita; complementando que lucro é o que menos importa no momento. Este tipo de colocação é típica de um "bull market" em seus estágios finais, e soa como patética quando a festa acaba. As ações da Amazon podem até triplicar de preço, mas LUCRO será sempre importante. Mesmo que não seja um lucro imediato, é necessário que haja uma visibilidade com relação a lucratividade futura. Em um cenário econômico benigno, com juros baixíssimos como este vivido pelas economias desenvolvidas, o "valuation" consolidado destas ações não chegam a ser um enorme problema. Os múltiplos ainda estão longe daqueles registrados no auge da bolha do Nasdaq, em março do ano 2000.

Agora, diante de um choque exógeno e inesperado, um que provocasse uma maior aversão a risco, tais ações poderiam ter seus preços cortados em 50% em uma questão de uma semana, senão em menos tempo. Conforme mencionei em meu Comentário de ontem, vejo o atual momento na bolsa americana com uma maior desconfiança pois esperava uma maior volatilidade no índice, algo mais comum nos estágios finais de um ciclo de alta. Novamente, tal estágio normalmente é marcado por um elevado número de investidores "vendidos" que eventualmente acabam tendo que se zerar, provocando uma "última pernada" de alta nas bolsas. Por tudo isso, acho que o movimento iniciado na tarde de ontem levanta uma certa dúvida quanto a continuidade do movimento altista, podendo assim resultar em alguns dias de realização de lucros. Aqui no Brasil, o Ibovespa até que se comportou melhor ontem, mas como sabemos, temos tantas vulnerabilidades que seria difícil de apostar em um descolamento caso um movimento de aversão a risco se materialize.

Marink Martins, CNPI

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