Força-Tarefa: "Save the Market"
A cesta de ações (MTUM) reúne as ações de melhor desempenho na bolsa americana. Por isso, venho monitorando de perto seu desempenho para sabermos se estamos em um ponto de inflexão nos mercados.
Confesso que tenho enorme admiração pela cultura Americana. Eles entendem o "problema da última milha" como nenhuma outra cultura. Nos últimos dois dias os "canais de distribuição" ficaram entupidos devido a um enorme fluxo de vendas, mas, de forma sincronizada, seus administradores se reuniram, como em uma enorme força-tarefa, para acalmar os ânimos dos investidores.
Ao longo dos últimos dois dias a audiência do canal de televisão especializado em mercados, CNBC, disparou. Embora a fragilidade vista nos mercados na manhã de segunda tenha sido bem-vinda para reconectar a audiência que passara o fim de semana pensando no Super Bowl, sua intensidade assustou. Com isso, a rede de canal mobilizou um time especial composto por gurus, reguladores, grafistas e historiadores para passar uma mensagem de que a queda fora algo pontual, provocado por um grupo isolado de gananciosos viciados em "venda de volatilidade" através de um produto estruturado pelo Banco Credit Suisse. Nesta hora, é sempre bom identificar o culpado e seu produto "cancerígena"; se o culpado for uma instituição estrangeira, fica ainda melhor. No fim do dia, após um belo trabalho, até o papa havia sido convencido de que o preço das ações estava uma barganha.
A narrativa sobre o que de fato ocorreu na tarde de segunda-feira talvez fique mais clara ao longo do tempo através dos livros. Confesso que até hoje não tive a acesso a uma explicação plausível sobre o "flash-crash" de 2010. De qualquer forma, o fato de uma "Exchange Traded Note" (ETN) como a XIV ter perdido 90% de seu valor em único dia sinaliza que há um problema estrutural no sistema. Será que o Credit Suisse era a única instituição vendendo tal tipo de produto para as massas? Provavelmente não. Um analista do Barclays prevê uma enorme pressão vendedora em ativos relacionados ao índice S&P 500 devido a necessidade de reenquadramento e zeragem de posições.
Por tudo isso, gravei um vídeo ontem no qual falo sobre o retorno da volatilidade. Não podemos prever a direção dos mercados, mas, com base na volatilidade implícita nos contratos vigentes, podemos afirmar que os próximos dias deverão apresentar oscilações bem mais bruscas do que aquelas registradas ao longo de 2017 - ano em que os americanos se viciaram em "venda de volatilidade". Segue o vídeo:
Para finalizar, reitero aqui que um dos indicadores importantes neste momento deve ser a relação entre o MTUM (ETF que mede o "momentum" do mercado) e o próprio índice S&P 500. Caso a estrutura do mercado se mostre abalada pelos últimos eventos, é provável que "o que estava dando certo" (MTUM) comece a ter um desempenho inferior ao índice. Para efeitos práticos, defini arbitrariamente que caso tal desempenho seja 0,50% inferior ao do índice, investidores devem interpretar isso como um sinal de fraqueza. Abaixo segue um gráfico ilustrando tal relação nos últimos 5 dias:
Como podemos observar, apesar da queda, o MTUM (linha azul) continua registrando um desempenho superior ao índice S&P 500, o que, a princípio, nos leva a crer que ainda há muita demanda direcionada às estrelas deste longo "bull market" (ações de tecnologia). Continue monitorando!
Marink Martins
myvol.com.br