Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças nos mercados

08/01/2022

É notória a presença dos seguintes sinais de mudança nas políticas monetárias e fiscais:

1. FED - de QE para QT. (de um afrouxamento para um aperto monetário)

2. O fim da febre especulativa

3. Retomada do impulso creditício na China

4. Salto nos preços de diversas fontes de energia devido a falta de investimentos em produção.

5. As taxas de juros nos EUA e Europa começam a subir.


Força 1: Variante Omicron

Os mercados reagiram de uma forma diferente diante do surgimento da variante omicron. As quedas em diversos ativos vulneráveis a pandemia - petróleo, mercados emergentes - foram mais rápidas. Rapidamente, os mercados se ajustaram ao fato de que, embora mais contagiosa, esta variante é menos letal. Uma transição já esperada em se tratando de vírus que afeta a parte respiratória dos humanos.

Aos poucos, mais e mais países seguirão o mesmo percurso feito pela Suécia no que diz respeito a Covid. Observe que o país escandinavo não fez lockdown e, consequentemente, pagou um preço elevado por isso. No entanto, hoje desfruta do fato de que boa parte da população já estar imunizada. 

Observe, através do gráfico abaixo que indica o total de mortes de todas as causas, que em países como a França e a Itália, o número de mortes semanais já voltou a seguir a tendência histórica anterior ao surgimento da pandemia. 

Força 2: a situação financeira robusta dos consumidores em países ocidentais e desenvolvidos

Desde o início da pandemia o patrimônio líquido ("new worth") dos consumidores americanos cresceu US$34.1 trilhões; ou 160% o valor do PIB dos EUA. Todos os ativos se valorizaram, de ações a imóveis, de bitcoin a carros usados. 

Apesar de preocupações dos mercados em torno de uma eventual desaceleração da economia associada a remoção de estímulos monetários e fiscais, o mais provável é que a economia continue se expandindo fortemente. Afinal, o crescimento patrimonial das famílias foi algo sem precedentes. Caso a demanda por bens e serviços vindo de famílias comece a subir, é natural que os empresários comecem também a investir em CAPEX para poder produzir uma quantidade que seja condizente com a crescente demanda. 


Fraqueza 1: Escassez de mão-de-obra

Há um movimento nos EUA que vem sendo chamado de "The Great Resignation" (ou A Grande Renúncia). Algumas pessoas estão se aposentando mais cedo. Outras simplesmente largando seus empregos por diversas razões. O crescimento patrimonial junto com razões sanitárias certamente contribuem para este tipo de atitude. Como resultado, há um elevadíssimo número de vagas de trabalho não preenchidas. Tudo isso resulta em uma maior pressão salarial, contribuindo para um cenário inflacionário mais desafiador. 

Fraqueza #2: Alto endividamento do governo e aumento da inflação

Apesar do gráfico acima ilustrar que a dívida dos EUA voltou a patamares da época da segunda guerra mundial, a situação de hoje é ainda mais drástica. Isso ocorre devido a encargos previdenciários ainda não contabilizados que hoje é significativamente maior do que nos anos 40. 

Tudo isso nos leva a seguinte questão: a inflação vista hoje em áreas como os EUA, o Canadá, o Reino Unido e a zona do euro é um problema pontual (um "bug")? Ou seria algo crônico (um "feature")?

No passado, a forma pela qual os governos resolveram o problema do elevado endividamento foi através do que é conhecido como repressão financeira (a manutenção de juros reais negativos). No entanto, uma importante diferença dos anos 50 e 60, em relação aos dias atuais, é que naquela ocasião, o preço do petróleo se manteve relativamente estável como podemos ver no gráfico abaixo:

Fraqueza # 3: aperto monetário, redução no ritmo de impressão de moeda



Fraqueza #4: redução no ritmo de crescimento do PIB chinês


Fraqueza #5: Deterioração no "Market Breadth" 

Desde o dia primeiro de maio de 2021, a capitalização de mercado do índice S&P 500 cresceu 5,21 trilhões de dólares, sendo que 50% deste valor pode ser atribuído para as 5 das 7 maiores empresas do índice. (Apple, Microsoft, Google, Nvidia e Tesla). O gráfico abaixo é ilustrativo desta disparidade que ocorre na bolsa americana. 

Oportunidade # 1: um dólar americano mais fraco

Duas surpresas em 2021: um iune bem forte e um iene bem fraco!

Um dólar mais fraco poderá aliviar pressões inflacionários no resto do mundo. Em contrapartida, fica a preocupação a respeito de como se comportará as ações de BIG TECH dos EUA em caso de uma perda cambial.

Oportunidade # 2: Retomada do impulso creditício chinês

Caso o dólar fique mais fraco, é certo que o governo chinês terá mais espaço para estimular sua economia e abrir a torneira de crédito para suas empresas de construção civil. Nos últimos meses, testemunhamos um massacre nos títulos de renda fixa destas empresas. Muitos deles negociam hoje com um enorme desconto em relação ao valor de face dos títulos, como podemos ver no gráfico abaixo que ilustra o rendimento de uma carteira de high yield do Bank of America:

Oportunidade #3: o destino da poupança dos consumidores chineses

Historicamente, os chineses sempre pouparam através do mercado imobiliário. No entanto, mais recentemente, o governo chinês já deixou claro que imóveis são para fins residenciais, e não fins especulativos. Sendo assim, caso os chineses optem por redirecionar suas poupanças, quais classes de ativos tendem a se beneficiar?

Oportunidade #4 o retorno do Irã, Nord Stream 2 em operação, e a volta do carvão

O aumento no custo da energia é, historicamente, um dos eventos mais desestabilizadores. Por isso, é possível vermos uma certa flexibilização por parte das autoridades com o objetivo de aliviar as pressões inflacionárias. Abaixo, o gráfico do preço do gás natural na Europa e o preço do carvão na China:

Ameaças #1: O aumento no preço da energia impactando negativamente a liquidez dos mercados

Historicamente, os países da OECD mantém em estoque o equivalente a 100 dias de consumo de petróleo. Mas, como podemos ver abaixo, este estoque está em um nível mais baixo no momento:

Como todo este estoque necessita ser financiado, um aumento significativo no preço do petróleo representa um dreno de liquidez; e é exatamente isso que estamos observando nos últimos meses. 

Uma das razões pela qual este dreno de liquidez associado a preços mais elevados para o petróleo não afetou os mercados é devido ao fato de que o FED vinha injetando um volume de recursos ainda maior do que o impacto descrito acima. Com a mudança de postura do FED, uma nova alta no preço do petróleo poderá afetar negativamente os mercados. 


Ameaça #2 Outros problemas no segmento de commodities

Os investidores permanecem reticentes em investir em países latinos produtores de commodities como o Chile, o Brasil e o México. Dentre as razões, a incerteza política é certamente um dos fatores mais importantes. 

Há indícios de que o "bull market" em commodities iniciado em 2021 deverá continuar. 


Ameaça # 3 Um colapso no mercado de criptomoedas

Ameaça #4 - Resultados eleitorais surpreendentes

Eleições na França, nos EUA (midterm), no Brasil e na Itália poderão surpreender negativamente. 

Nos EUA, a perda de poder dos democratas poderá resultar em um arrocho fiscal similar ao ocorrido a partir de 2010 quando os republicanos do Tea Party assumiram o comando do congresso do país. 


Consolidando todas as ideias discutidas acima:

Louis nos deixa com três importantes questões para reflexão:

1. Será que o "bull market" em energia e commodities persistirá em 2022? Ele certamente pensa que sim e atribui uma elevada probabilidade de materialização.

2. Será que o ajuste a ser feito pelo FED em 2022 vai ser mais ou menos intenso do que as expectativas de analistas? Louis acredita que será mais modesto, mas reconhece não ter muita convicção neste tema. 

3. Será que a China irá abrir a torneira do crédito em 2022? Ele pensa que sim, mas desconfia da intensidade...


Em suma, Louis acredita que os ativos de risco chineses poderão surpreender e levar consigo outros ativos em mercados emergentes. Para isso, entretanto, é necessário que a moeda americana para de se valorizar...


Marink Martins

 

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