Imagine a Apple valendo 15% do PIB dos EUA

14/10/2020

Faz três anos que gravei uma série de vídeos sobre o livro The Four - escrito por Scott Galloway - que explorava o DNA das quatro gigantes de tecnologia: Amazon, Apple, Facebook e Google. Dentre os temas mais discutidos no livro, a corrida para ver qual destas empresas chegaria à marca de 1 trilhão de Dólares em valor de mercado. Galloway apostava na Apple e acertou em cheio.

O fato é que hoje a Apple já vale mais de 2 trilhões de dólares e tem um peso na carteira MSCI global de 4,46%, superando o peso de todos os países, com exceção, obviamente, dos EUA (66,5%) e do Japão (7,86%).

Ontem, a empresa lançou o seu Iphone 12 - o primeiro aparelho da empresa com a tecnologia 5G - em um evento em que otimistas dizem ser o início de um novo movimento de renovação tecnológica. Há uma expectativa de que este novo modelo reúna os atributos necessários para que consumidores embarquem em uma onda de "upgrade" análoga ao ocorrido na ocasião do lançamento do Iphone 6.

Caso isso ocorra, é possível que o preço da ação da Apple suba ainda mais. Há quem especule patamares próximos aos US$170.

Contudo, uma valorização desta magnitude colocaria a Apple com um valor de mercado de 3 trilhões de Dólares, ou 15% do PIB americano. Deixaria a empresa com uma participação na carteira MSCI equivalente à do Japão.

Embora tudo isso, ainda que chocante, seja possível, talvez seja improvável. Os mercados tendem ao exagero.

Aqui, vale lembrar que no fim dos anos 80, parecia que o Japão dominaria o mundo. Na ocasião o valor de mercado do palácio imperial japonês chegou a superar o valor de mercado de todo o Estado da Califórnia, quando medidos pelo valor por metro quadrado.

O preço da ação da Apple está muito distante de representar tamanha aberração. Mesmo assim, estamos falando de uma empresa que, há um tempo, negociava a um múltiplo de 15x o lucro projetado para os 12 meses seguintes. Hoje, tal múltiplo está bem acima de 30x. Além disso, seus contratos derivativos vêm sendo negociados embutindo uma volatilidade implícita superior a 50%. Um sinal de que fortes oscilações persistirão.

Vivemos em um período atípico. Objetos tangíveis e intangíveis, como um Iphone e ações, são precificados em dinheiro, cujo custo vem sendo mantido artificialmente baixo. Alguns objetos, que refletem a preferência dos investidores - como ações de empresas de tecnologia - vem subindo de forma consistente. Outros - como ações de empresas petrolíferas e de bancos - seguem abandonados. Há um limite para tais distorções e sinto que estamos muito próximos a um ponto de inflexão.

Marink Martins

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