Juros americanos próximos a 3% e a eficácia do corte de impostos de Trump

24/04/2018

Dentre as diferenças comportamentais entre democratas e republicanos, uma que se sobressai é a tendência dos republicanos a buscar constantemente uma redução de impostos.

Nos últimos meses, Donald Trump promoveu a maior reforma tributária nos EUA desde a época de Ronald Reagan, cortando impostos de uma faixa de 35% para aproximadamente 21%. Sua iniciativa certamente vem contribuindo para transformar a atual expansão econômica norte americana em uma das mais longas da história.

Por trás das motivações republicanas, há a premissa de que tal redução de impostos resultará em maiores investimentos corporativos que levarão a uma maior produtividade. Tais argumentos trazem consigo um enorme apelo populista pois há um consenso de que governos não só gastam muito, mas gastam muito mal.

O que talvez não se discuta com a devida importância neste exato momento é que este experimento já foi feito antes e que suas consequências tendem a ser bem diferentes das expectativas iniciais.

Confesso aqui que, apesar de ser um observador distante, a "canetada" de Trump sempre me incomodou. Não que eu seja contra o corte de impostos! Só acho que abrir mão de receita é fácil. Difícil é operar o outro lado do balanço; o lado do corte das despesas.

O caráter populista desta medida está associado a estratégia de marketing sempre implementada por aqueles que teimam em repetir esta iniciativa. O principal argumento a favor de corte de impostos é algo que se dá o nome, em inglês, de "dynamic scoring"; uma espécie de previsão orçamentária que leva em consideração uma mudança benéfica no comportamento dos agentes diante de mudanças tributárias.

Em 2003, época em que George Bush, o filho, liderava o país, um comitê organizado pelos próprios republicanos estudou o assunto e concluiu que os efeitos de cortes de impostos não acompanhados de cortes necessários nos gastos para manter o orçamento equilibrado resultam em um aumento contínuo no endividamento do país. Parece obvio, mas é justamente aí que o governo Trump ilude a população norte-americana, com uma postura que certamente levará a consequências globais.

Apesar do Congressional Budget Office (CBO) dos EUA indicar que o déficit fiscal do país caminha para atingir 5% em 2027, não há dúvidas que tal déficit será financiado de alguma maneira; seja ela internamente, através de bancos, ou mesmo da população, ou através de emissão de dívida para agentes externos. A questão aqui, entretanto, é outra! Qual será o preço desta expansão? Qual será a penalidade cobrada pelo mercado a um "Tio Sam" perdulário?

Após o déficit fiscal norte americano ter explodido depois da crise de 2008, ele volta a crescer de forma preocupante.

Estimativas do Congressional Budget Office (CBO) dos EUA apontam para um déficit fiscal superior a 5% em 2027. Note, entretanto, que tal previsão assume um crescimento anual do PIB de 2,5%. Caso o país entre em recessão, tal situação poderá se deteriorar. 

Esta é uma questão muito discutida pelo antigo Secretário do Tesouro Americano, Bob Rubin, em seu livro "In an Uncertain World". Vale ressaltar aqui que Rubin, um democrata, esteve a frente de um raro momento em que os EUA registraram um superávit fiscal.

Mas, partidarismo a parte, aos poucos o ceticismo dos mercados quanto a política fiscal do atual governo começa a se manifestar através das taxas de juros. Em meio ao achatamento da curva de juros americana, a taxa de juros dos treasuries de 10 anos está próxima de 3%.

Um rompimento deste patamar é algo que tende a tornar a vida dos emergentes cada mais complicada!

Marink Martins   

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