Mais Poder ao Investidor

28/06/2017

Enquanto acionistas da Vale aprovam a conversão de ações Preferenciais (PN) em Ordinárias (ON) e, com isso, dão um passo importante em direção ao Novo Mercado da B3, empresas americanas, em particular, novas empresas da área de tecnologia, caminham em direção oposta. 

Hoje, é muito comum empresas americanas irem ao mercado ofertando um pequeno percentual de sua base acionária (<20%) com diferentes classes de ações, de forma que o controlador retem uma classe com um maior poder de voto em assembleias que muitas vezes pode chegar a uma razão de 10 para 1. A empresa Snap Inc., proprietária do aplicativo Snap Chat, foi ao mercado em fevereiro deste ano com três classes de ações: Classe A, Classe B e Classe C. Disponível aos investidores no IPO somente as ações Classe A. Tais ações não tem direito a voto em assembleias, embora investidores possam participar destas como ouvintes. As ações Classe B foram direcionadas a executivos e aos investidores "originais", aqueles que apostaram na empresa em rodadas de investimentos que precederam o IPO; tais ações tem direito a um voto por ação. Já as ações Classe C, pertencem aos fundadores da empresa, e carregam o direito de 10 votos por ação. Engana-se quem acha que tal configuração está restrita a Snap. Empresas como a Facebook, a Alphabet, e muitas outras, de uma forma ou de outra, possuem uma configuração que desempodera o investidor. Tudo isso, naturalmente, vem ocorrendo devido a capacidade de inovação do setor de tecnologia americano, um setor dominado por jovens que querem enriquecer sem ter que abrir mão do controle de suas empresas. Investidores, por sua vez, querem "surfar" uma onda de inovação e apreciação de seu patrimônio, e para isso, aceitam condições que, em condições normais, não seriam aceitas. Este movimento é certamente mais um sintoma de que há excessos em termos de confiança do investidor. Tais sintomas ocorrem com frequência em ciclos econômicos, em particular, em períodos de euforia. Neste sentido, os meus parabéns para os acionistas da Vale que tomaram uma decisão na direção certa.

Marink Martins

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