Mercado americano -- foque na correlação setorial

30/11/2017

Ontem o mercado americano testemunhou um tremendo sacode em um setor tido como um dos pilares deste longo "bull market". O setor de tecnologia, medido pela sua respectiva cesta de ações cujo símbolo é XLK, caiu 2,20%, levando o índice Nasdaq 100 a registrar uma queda de quase 2%.

O curioso é que se você não pôde acompanhar o "intra-day" dos mercados e focou somente na variação de fechamento, provavelmente não percebeu que o dia foi marcado por uma intensa rotação setorial. O índice S&P 500, o principal termômetro da bolsa norte americana, se manteve estável, próximo a sua máxima histórica. O dia, porém, foi extremamente "sangrento", principalmente para as ações ligadas ao setor de semicondutores. Embora os jornalistas de plantão tenham citados inúmeras razões para tal evento, o fato é que "o mundo" resolveu vender as "blue chips" tecnológicas e migrar para o setor financeiro. O índice VIX, aquela medida de volatilidade associada ao índice S&P 500, permaneceu-se baixo, a 10,45%, com o índice de correlação setorial (KCJ), ainda em um ponto preocupante de 16.28%.

Enquanto o otimista viu em tal movimento de rotação setorial sinais claros de um mercado saudável, o pessimista se animou com a briga interna e tomou coragem para pagar para ver. Pois é, o mercado é um ser ambíguo, tanto por definição como por necessidade.

Eu, um pouco mais pessimista, já acho que as vitórias conquistadas pelo governo americano no que diz respeito ao trâmite da reforma tributária poderia ter contagiado todo o mercado, e de forma mais intensa. Na verdade, o que observei foi um típico "sobe no boato e cai no fato" no setor que é tido como o principal pilar do mercado. É possível que o movimento de ontem seja uma simples realização de lucros que será rapidamente absorvida por investidores esperando uma oportunidade de entrada? É óbvio que sim.

Dito isso, investidores devem ficar atentos ao achatamento da curva de juros norte-americana, medido pela relação entre as taxas de retorno dos títulos soberanos de 2 anos e 10 anos. Tal achatamento é um indicador importante de que a economia não navega tão bem quantos muitos acreditam. Sendo assim, as decisões da autoridade monetária (o Fed) tendem a ser ainda mais impactantes. Há um consenso de que os juros deverão subir já na próxima semana. Uma sinalização um pouco mais "hawkish" do comitê de política monetária poderá fazer com que o índice de correlação setorial suba de forma significativa, e retorne para níveis considerados normais; por volta de 40%. Caso isso ocorra, o VIX subirá para 15%, e a dinâmica de mercado será alterada, de forma a vermos variações diárias mais expressivas.

Venho explorando esta tese de que os atuais níveis de correlação setorial estão em níveis insustentáveis desde setembro. De lá para cá, tais indicadores subiram e caíram, mas permanecem em níveis incômodos. Reitero aqui a minha visão de que é só uma questão de tempo para uma normalização. Ter o índice de correlação do S&P 500 por volta de 16% é insustentável em um horizonte de mercado de 6 meses.

Já por aqui, o mercado azedou. Jornalistas irão atribuir a queda do índice Ibovespa as frustrações relacionadas a aprovação da reforma da previdência. Entretanto, não devemos descontar a tese de que as ações brasileiras na visão do investidor estrangeiro, são vistas como ativos de beta elevado, de forma análoga aquelas do Nasdaq 100. Por isso, afirmo que hoje é muito importante que o investidor local olhe para os componentes internos do S&P 500 e procure detectar a magnitude do movimento rotacional.

Marink Martins, CNPI

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