Minha ação ficou "ex-dividendos" e seu preço caiu! Pode isso Arnaldo?

14/12/2017

Bem, isso acontece. E quando ocorre, certamente deixa muitos acionistas frustrados. Afinal, há uma percepção errônea de que o pagamento de dividendos seja uma espécie de presente ao acionista.

Na verdade, o pagamento de dividendos é uma transferência de recursos que saem da conta corrente da empresa para a conta corrente de seus acionistas. O evento, por si só, não representa uma criação de valor. Mas, devemos reconhecer, que se a empresa está distribuindo parte de seus lucros pode ser um sinal de que as coisas caminham bem por lá.

Conforme mencionei em meu comentário de ontem, empresas pagam dividendos normalmente quando atingem um estágio de maturidade onde o caixa gerado por suas atividades operacionais é superior aos investimentos necessários para mantê-la funcionando bem. Tal situação gera um excedente de caixa que, na ausência de novos projetos, julga-se mais eficiente e ético devolvê-lo ao acionista. Naturalmente, eficiência e ética são conceitos vagos que quando interpretados por uma diretoria mal-intencionada podem levar a decisões problemáticas. Por isso, investidores devem ser cuidadosos e não se deixarem levar pela simples promessa de uma elevada taxa de retorno ("dividend yield"). A promessa de tal retorno pode ser simplesmente uma estratégia de marketing.

Ao declarar dividendos e estabelecer uma data de corte (data em que as ações deixam de desfrutar do direito de recebimento de tal provento; "data ex"), as ações de empresas pagadoras de dividendos tendem a se apreciar no período. Isso ocorre por diversas razões, sendo que uma delas é devido ao fato de que existe uma classe de investidores (institucionais e individuais) que busca exatamente este tipo de investimento. Entretanto, após a data "ex", é comum que haja um recuo proporcional no preço destas ações. Isso é normal, pois como descrevi acima, tal pagamento de dividendos nada mais é do que uma transferência de contas que traz consigo uma percepção de que tal comportamento tende a se perpetuar. Uma premissa um tanto perigosa.

Na crise de 2008, a analista da gestora Oppenheimer, Meredith Whitney, foi alçada a posição de guru ao prever em 2007 que o Citigroup não teria condições de honrar com os pagamentos de dividendos futuros. Sua previsão, além de provocar uma expressiva queda no preço das ações do banco, contribuiu também para "acordar" aqueles acionistas que acreditavam na perpetuidade de tal fluxo. Como o número destes era bem grande, a queda no preço do ativo foi avassaladora.

Não precisamos sair do Brasil para compreender bem esta história. Por muito tempo ações do setor elétrico eram bem vistas por seus elevados "dividend yield". Até que, em novembro de 2012, dona Dilma Roussef resolveu fazer uma graça e provocar um enorme "cisne negro" para os acionistas do setor. Um outro exemplo, este vindo de uma "small cap", é a empresa Brasil Insurance que, logo após seu IPO, prometeu a seus acionistas distribuir 95% de seu lucro em forma de dividendos. A empresa fez isso por dois ou três anos. Em seguida, em meio a diversos problemas mascarados por uma imagem de empresa "asset light" criada pela área de Relações com Investidores, o preço de suas ações despencou e aquele "dividend yield" desaparecera.

No fim, os dividendos trazem consigo a velha ambiguidade deveras presente nos mercados. É bom, mas é ruim! Nos exemplos mencionados acima, citei uma multinacional que já quebrou 3 vezes (O Citi quebrou nos anos 30, nos anos 80 e em 2008). Mesmo assim, a instituição ainda está aí, e em breve, muitos dirão: Citigroup, o símbolo da solidez! O Citi ainda sobrevive porque o governo sempre vem para resgatá-lo pois a instituição representa um risco sistêmico ("too big to fail"). Resgatam-se os credores. Os acionistas, entretanto, sofrem muito.

Marink Martins, CNPI  

www.myvol.com.br