MUDANÇA DE TOM - Não embarque na euforia

12/09/2017


O leitor destes Comentários de Mercado já deve ter notado uma mudança em minha postura com relação ao mercado. Na verdade estou traçando um retorno ao conservadorismo justamente em um momento em que a mídia financeira local começa a embarcar em um maior otimismo com relação à bolsa de valores. No dia 2/5/2017,gravei um vídeo para os clientes MyCAP, disponível no youtube, cujo título era MUDANÇA DE TOM, no qual justifiquei um maior otimismo com os mercados globais devidos a 5 fatores: (Uma lista com tais fatores e suas explicações está mais abaixo)

Não pretendo aqui, de forma alguma, dar uma volta da vitória. Até porque os eventos marcantes do dia 18/5 (aqueles do Joesley e Lauro Jardim) impediram que os mais alavancados e imediatistas desfrutassem da alta subsequente. Por isso, em meus encontros, enfatizo tanto que o TAMANHO APROPRIADO DA OPERAÇÃO é o fator mais importante em uma estratégia de investimentos.

Mas se você surfou esta onda, provavelmente está se sentindo muito bem. Parabéns! Um rabino uma vez disse que temos que saber acolher o parabéns, regozijar-se, e rapidamente se desvertir deste sentimento que alimenta o "eu" e o torna vulnerável ao "mal impulso" - ao "yetser hará!"

Por isso, faço a seguinte recomendação a você que está com lucro acumulado, fruto deste último ciclo de valorização: TIRE FÉRIAS!

Digo isso, pois é muito comum em momentos como este que sejamos tomados por um sentimento de invencibilidade. A consequência prática é um aumento do risco em nossas carteiras justamente no momento em que deveríamos começar a reduzir o risco. 

Ah, mas o juros estão caindo! Ah, mas o AUM (alocação) dedicado a bolsa está na mínima! Ah, mas a economia começou a crescer justamente agora!

Tudo verdade! Não estou recomendando sair da bolsa. Estou recomendando que você não aumente o seu risco neste momento. Se for um pouco mais conservador, comece a reduzir o risco.

Há 20 anos atrás, o céu era de brigadeiro; o Brasil, o país do futuro. Até que em 14/7/1997 (15 dias depois de um ciclo de novas máximas registradas no Ibovespa) o mundo acordou com núvens pesadas vindas da Ásia. A grande estrela da época, as ações da Eletrobras, tiveram seus preços corrigidos de R$800 para R$200 em alguns meses.

Não sou um bom market timer. Quem já me conhece sabe que toda a minha atenção ao mercado é dedicada a busca de taxas utilizando parâmetros de volatildade como o meu principal indicador. 

Busque o crescimento patrimonial de forma segura e desligue a televisão. Warren Buffet não embarcou na euforia do "boom" do Nasdaq. Amargou tremenda "underperformance" de seu veículo de investmento com relação ao S&P 500, mas, no fim, saiu-se mais forte. Ele é como a árvore conífera (os vegetais que vivem por mais tempo). Taí uma ótima lição do oráculo de Omaha!!!


Mudança de Tom (2/5/2017) - 5 fatores

1. "Global Macro": "Trumpnomics light", estabilidade européia, e Plenário Chinês.

Os mercados, de forma surpreendente, superaram algumas barreiras nos últimos meses: receio com relação a medidas de Trump e eleições na Holanda e na França. Mesmo após a derrota do governo americano ao tentar derrubar o Obamacare e iminentes dificuldades para aprovar a reforma tributária recém-anunciada, os mercados americanos parecem celebrar um governo mais moderado, com um presidente que, a cada dia, perde prestígio. Paralelamente, na europa o BCE não reduziu seus estímulos monetários e as eleições europeias indicaram candidatos centristas a favor da continuidade do bloco. Na China, embora os mercados estejam corrigindo os excessos gerados pelos estímulos iniciados em 2015, a tendência é de estabilidade, condizente com períodos que antecedem Plenários como o que ocorrerá em outubro deste ano e que deverá levar Xi Jinping a um novo mandato. Todos estes fatores contribuem para um menor risco global que pode ser visto através do VIX (medida de volatilidade associada ao S&P 500), que se aproxima de sua mínima histórica.

2. Resiliência das "blue chips" americanas:

Já no fim do quarto trimestre, vimos empresas como a Apple, a maior empresa listada do mundo em termos de valor de mercado, surpreender os mercados ao registrar um significativo crescimento em um novo segmento: o de serviços. Na semana passada, tivemos mais uma prova de que as principais empresas americanas, principalmente aquelas do setor de tecnologia, continuam se superando e sinalizando que o melhor ainda está por vir. Foi o caso da Microsoft com o sucesso de sua divisão de "Cloud computing", da Google, da Facebook e da Amazon. A Google e a Facebook, além de extremamente rentáveis, dominam 70% do mercado de anúncios digitais, e, mais importante, negociam com múltiplos de P/L razoáveis, uma vez levado em consideração seus respectivos potenciais de crescimento de lucratividade. Um outro setor de enorme importância nos EUA é o setor bancário. Este, que no passado negociava com múltiplos comprimidos devido a receios diante de riscos regulatórios associados a um eventual governo Clinton, vive um momento mais promissor. De acordo com Mike Mayo, o famoso analista da CLSA, há enorme potencial de valorização para os principais bancos: JP Morgan, Bank of America, Citi, Goldman Sachs e Morgan Stanley.

2.1 Nova Revolução e o efeito "The Winner takes All"

Para maioria dos mortais, antes de 1994, navegar pela internet era acessar sua conta da America Online (AOL) - (You´ve got mail!, só para lembrar da marcante chamada ao abrir o programa). Naquele ano tivemos o IPO da Netscape, empresa de Marc Andressen que revolucionou o acesso do público em geral ao que hoje conhecemos como "World Wide Web". Para especialistas como Kevin Kelly, autor do livro "The Inevitable", estamos diante de uma nova revolução, dominada pelos avanços nas áreas de Inteligência Artificial, "Machine Learning", "Deep Learning", Redes Neurais Artificiais, e muitas outras. Tudo isso já esta em andamento, e já vem contribuindo para enormes ganhos de produtividade nas empresas de ponta. Sabe-se que, em um primeiro momento, estas novas tecnologias poderão ter um impacto significativo no mercado de trabalho, gerando muita ociosidade em segmentos onde as máquinas substituirão o trabalho feito por humanos. Embora tais impactos ainda sejam incertos do ponto de vista macro, pode-se afirmar que as empresas líderes em seus segmentos tendem a se beneficiar de forma desproporcional, ganhando fatia de mercado de seus concorrentes e, consequentemente, aumentando seus resultados. Quem é forte, tende a ficar mais forte!

3. A "última pernada de alta" tende a ser a mais expressiva!

Os americanos adoram utilizar a analogia do baseball para descrever os ciclos de alta das bolsas. No baseball, o jogo ocorre em nove "innings", ou nove períodos de jogo. Muitos acreditam que o ciclo de alta da bolsa esteja entre o oitavo e o nono "inning". Embora próximo ao final, vale ressaltar que a "última pernada de alta" nas bolsas tende a ser a mais expressiva, pois conforme o "jogo" se aproxima do fim, cresce de forma desproporcional o número céticos. Com um maior número de investidores/especuladores apostando contra, o movimento de alta tende a ganhar intensidade pois é notório que os próprios vendidos são os responsáveis pelas altas mais expressivas nas bolsas de valores. Tais fenômenos foram observados tanto nos meses que antecederam o fim da alta do Nasdaq em março de 2000, como o fim da alta do Ibovespa em abril de 2008.

4. Inclusão de empresas chinesas no MSCI poderá gerar um novo "boom"!

A julgar pelo salto na alocação de recursos dos fundos mútuos globais para as empresas chinesas, é grande a expectativa de que um grande número de empresas localizadas na China continental seja incluído nos principais índices computados pela MSCI nos próximos meses. Nos últimos oito anos, vimos um maior fluxo para empresas da China, da Índia e do México, compensado por saída de recursos em países como Brasil e Rússia. O mercado de capitais chinês cresce a uma velocidade estonteante, com empresas extremamente dinâmicas e robotizadas. É possível que qualquer interrupção no ciclo de alta norte-americano seja amenizado por uma aceleração de investimentos em empresas asiáticas.

5. Ibovespa - Maiores fluxos internos e externos que, combinados com uma moeda mais fraca, contribuirão para ganhos nominais expressivos!

Aqui, seguindo a linha apresentada há mais de um ano pela área de estratégia do Banco BTG Pactual, tudo indica que os fluxos de investimentos para a bolsa brasileira encontram-se próximos a mínima histórica. Embora o Ibovespa não esteja uma barganha e o cenário macroeconômico não seja auspicioso, acredito que as principais empresas brasileiras, principalmente as listadas, tendem a se beneficiar de forma similar as americanas, ganhando fatias de mercado de empresas de menor porte, sem acesso as novas tecnologias. Os resultados do primeiro trimestre deste ano de empresas como Raia Drogasil e Localiza corroboram tal tese, com ambas registrando crescimento de vendas bem acima do crescimento da economia como um todo. Quanto aos fluxos, nos últimos dez anos, o percentual dos recursos administrados por investidores institucionais dedicados a renda variável só fez cair, e encontra-se hoje no patamar de 8,3%, comparado com o patamar de 18% registrado entre 2008 e 2009. Uma pequena reversão no fluxo global favorecendo o Brasil, combinado com um maior interesse local, juntos poderão impulsionar o Ibovespa para novos recordes nos próximos meses.

Em suma, embora o mundo não tenha mudado tanto nos últimos dois meses, há a percepção de que os estímulos dos BCs continuarão "ad infinitum"e de que o efeito "The Winner takes All" irá contribuir para uma maior resiliência das grandes empresas aqui, e lá fora. Se, além disso, tivermos um repique em termos de fluxo para a Bovespa, o cenário tende a ser bem promissor para o segmento de ações.

Marink Martins, CNPI


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