Navegando em meio a doença europeia

21/08/2019

Caso você tenha a oportunidade de rever a literatura associada ao mercado de ações nos últimos 15 anos irá notar que, mesmo diante da presença de sinais claros de deterioração nos fundamentos econômicos, muitas vezes os índices de ações continuaram a se valorizar como se nada estivesse ocorrendo.

Ao assistir, por exemplo, o filme A Grande Aposta baseado no livro clássico "Big Short", escrito por Michael Lewis, muitas vezes passa despercebido a aflição de um dos protagonistas (Dr. Michael Bury) diante do fato de que seus "Credit Defaut Swaps" (CDS) simplesmente não se valorizavam apesar da constatada deterioração no mercado imobiliário.

Vendido como um filme que buscava retratar o ocorrido na grande crise financeira de 2008, poucos notam que os ganhos registrados pelas estrelas de "Big Short" foram registrados entre 2005 e 2007.

Curiosamente, para os fundos quantitativos norte-americanos, os meses de agosto e setembro de 2007 representaram claramente um dos momentos mais difíceis na história de um segmento que lutava para ocupar um maior espaço em Wall Street.

No Brasil, vale destacar que vivíamos o superciclo das commodities e a festa dos IPOs. O preço das ações da Petrobras atingiu sua máxima em um período entre abril e maio de 2008 impulsionado por expectativas de descobertas no pré-sal. Na segunda semana daquele ano, a fala de Haroldo Lima, então presidente da ANP, a respeito do tamanho do poço denominado Carioca fez com que as ações da empresa disparassem.

Abordo este assunto aqui para passar uma simples mensagem:

As bolsas internacionais podem até se valorizar no curto prazo, mas isso não deve mascarar o fato de que o "paciente" está doente!

-- Mas, quem é o paciente? Pergunta o leitor.

O paciente é o sistema monetário internacional!

Observe que a Alemanha, considerada um porto seguro para os investimentos desde os anos 60, já mostra claros sinais de entropia. Entenda entropia aqui como uma tendência natural a desordem.

Em um leilão de 2 bilhões de euros em títulos de 30 anos rendendo uma taxa negativa de -0,10%, o comprador final não compareceu. O banco central europeu teve que comprar 2/3 do lote.

O leitor que me acompanha diariamente sabe que Charles Gave vê a Europa como o grande risco para o sistema financeiro global. Para ele é o risco de um colapso no sistema bancário europeu o principal catalisador para a demanda por ouro e treasuries vista nas últimas semanas. Caso você considere Charles pessimista demais, saiba que no ano passado ele disse que uma deterioração europeia estaria por vir a partir do momento em que o partido italiano Lega passasse a liderar o país, se afastando da coalizão com o grupo 5-Star Movement. Bem, não é isso que estamos ver acontecer na Itália nos últimos dias? Por isso, creio que devemos dar o benefício da dúvida a este que é um dos mais respeitados estrategistas globais.

Não devemos esperar, entretanto, que os mercados irão se ajustar de forma linear. Existem personagens, carreiras, empresas e autarquias que se beneficiam da manutenção do status quo. Eles resistirão até o final.

E como proceder neste cenário? Bem, é preciso ser paciente e ser tático. Vou abordar este assunto em mais detalhes hoje a noite em um evento organizado pela Corretora MyCAP. O evento é gratuito e você poderá se inscrever e obter mais informações enviando um email para marketing@br.icap.com

Marink Martins

www.myvol.com.br