Sobre a posição líquida dos investidores estrangeiros nos EUA

01/07/2021

O "Bureau of Economic Analysis" publicou ontem o importante relatório trimestral (com defasagem de um trimestre) conhecido como "NET INTERNATIONAL INVESTMENT POSITION". Neste relatório temos acesso ao volume de ativos de americanos investidos nos demais países assim como ao volume de recursos investidos por estrangeiros nos EUA. O gráfico abaixo é ilustrativo destes tão importantes fluxos: 

Observe que o volume de recursos em nome de estrangeiros é denominado de "US Liabilities" enquanto o oposto de "US Assets". A posição líquida (gráfico à esquerda) é justamente a diferença entre estes ativos e passivos.

No fim do primeiro trimestre de 2021 tal posição líquida cresceu em 310 bilhões de dólares, representando um aumento relativo dos valores investidos nos EUA em relação ao valor investido por americanos ao redor do mundo. Note que -- ainda que sutil -- há uma desaceleração desta nítida tendência vista no gráfico à esquerda. Este aumento na posição líquida foi praticamente resultante da valorização dos ativos detidos por estrangeiros, ao invés de aporte de novos recursos.

Este é um tema que julgo super relevante, pois não é de hoje que os estrangeiros -- que tanto contribuíram para a valorização dos ativos americanos -- começam a exibir uma certa exaustão neste processo de super-alocação em ativos americanos. Uma prova contundente desta afirmação pode ser vista no gráfico abaixo ilustrando os compradores de títulos emitidos pelo tesouro dos EUA ao longo do ano de 2020:


Veja como, em meio ao maior ciclo de emissões de títulos públicos da história do capitalismo, o comprador de última instância foi a própria autoridade monetária dos EUA (o FED). Pois é, o FED arrematou quase 60% dos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional em 2020, enquanto os estrangeiros, que atualmente ainda são os maiores detentores destes títulos (com quase 30% do total emitido), simplesmente passaram uma mensagem de que já tem o suficiente!

Este arcabouço que busco descrever -- um onde o investidor estrangeiro começa a rever sua alocação global -- julgo que seja uma das tendências mais importantes no curto prazo.

Está certo que as bolsas estão nas máximas e que as ações de "growth" voltaram a se valorizar. É possível que ainda haja espaço para mais uma onda de alta especulativa como ocorrera em "bolhas" passadas. Todavia, a dinâmica global está mudando... No ano que vem, o surgimento do Iuane Digital promete ser um divisor de águas. Só o tempo irá dizer...

Marink Martins

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