Nos mercados e na política, ignore as estatísticas!

16/04/2018

Durante a "Pax Carioca", vivida não muito tempo atrás, havia um encontro (por sinal, nada carioca) que ocorria as quintas-feiras na Lagoa que era especial e deixa saudades. Tratava-se do dia em que o celebrado professor de física e cosmologia, e hoje curador do Museu do Amanhã, Luiz Alberto de Oliveira, ensinava-nos da forma mais simples possível sobre conceitos áridos como relatividade, física quântica e complexidade em um lugar que nos fazia acreditar em um Rio melhor, a Casa do Saber Rio.

Você pode não acreditar, mas, em seus primeiros anos de existência, seus cursos eram os mais disputados da Casa. Luiz adorava falar sobre a "dobra" ao discursar a respeito da complexidade. Em uma ocasião, quando disse que a linearidade era uma exceção na vida, não aguentei e brinquei dizendo "e eu passei anos na faculdade tentando encaixar dados em uma linha reta"; ele simplesmente sorriu, como se dissesse para si mesmo: "mais um tolo que acredita em métodos estatísticos como regressão".

Bem, em minha defesa, atesto que cursei faculdade em uma época em que ainda cultivava-se as ideias de Morita da Sony e do engenheiro Deming; era a época do "Total Quality Management (TQM)". A estatística reinava!

O uso de técnicas estatísticas em eventos replicáveis como a produção de um veículo da Toyota, ou mesmo de um, já ultrapassado Walkman da Sony, é essencial e muito contribuiu para melhorias em qualidade vistas nos produtos de hoje. Agora, quando o assunto é o mercado, entramos no mundo do caos.

Quanto menor for o horizonte de tempo da análise, mais próximo estaremos do caos. Dizer que um determinado evento tem 70% de chance de ocorrer é inferir de acordo com a Lei dos Grandes Números que se pudéssemos simular tal evento um milhão de vezes, observaríamos tal comportamento 700.000 vezes. Este é um "se" que simplesmente não pode ser feito com a precisão que muitos aferem, mesmo que você disponha de um belo simulador de Monte Carlo.

Eventos no mercado financeiro, por mais que se pareçam uns com os outros, não são replicáveis desta forma. Habitam o mundo do efeito borboleta, aquele em que uma pequena mudança aqui, outra acolá, tem um poder de mudar o resultado final de forma significativa.

Não sei quem disse isso originalmente, mas Taleb certamente nos diz que a aleatoriedade muitas vezes se confunde com o previsível. Por isso, seja nos mercados, ou mesmo na política, quando alguém disser que algo tem 30% de chance de ocorrer, faça como o professor Luiz Alberto: sorria!

Marink Martins

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