O argumento a favor das Small Caps

03/04/2019

No início de minha carreira vivi de forma intensa os últimos seis meses de um ciclo de alta na bolsa de valores doméstica que havia se iniciado no início do plano real. Embora eu ainda não estivesse atuando no mercado durante o evento que ficou conhecido como A Crise da Tequila (desvalorização do peso mexicano na passagem de 1994/1995), eu certamente estava presente naqueles meses que antecederam a crise asiática que se iniciou em julho de 1997.

Era um período de enorme euforia. A moeda era nominalmente estável e as perspectivas para o Brasil eram as melhores possíveis. No "pipeline": a privatização de diversas empresas do setor elétrico!

Aquele primeiro semestre de 1997 foi uma festa na bolsa. Era só comprar que tudo subia. E foi isso que fiz. Embora atuasse em uma mesa de arbitragem, contei com a liberdade do banco e carreguei uma posição em ações da Cemig. 

O papel subiu e, em poucos meses, eu já achava que entendia tudo. Como alguém um dia disse: os inseguros se enaltecem facilmente! De qualquer forma, o lucro registrado no primeiro semestre de 1997 foi algo marcante e incentivador para a trajetória que escolhi para a minha vida profissional. 

Embora a crise subsequente tenha levado todo o lucro obtido naquela ocasião, quero destacar aqui a intensa busca por ações, que na época eram conhecidas como ações de segunda linha, e hoje são conhecidas como small caps

Em particular, destaque para as ações da Celesc PNB, que o próprio banco que eu atuava, muito contribuiu para a escalada nos preços registrada naquele período. O papel voou! Mas não foi o único. Muitos papéis de segunda linha se destacaram pois aquelas de primeira linha - as blue chips - já tinham andado na frente. 

Esta busca pelas small caps é algo recorrente e bem estudado. Hoje mesmo, os estrategistas globais que acompanho dão destaque por esta busca em seu comentário do dia. Argumenta-se que o custo de capital das small caps estaria mais atrelado as taxas de curto prazo, e por esta razão, o preço das ações de tais empresas tende a se valorizar em um período mais tardio do ciclo econômico.

Detectar o estágio prevalecente do atual ciclo econômico é algo difícil, senão impossível. A verdade é que só teremos clareza a respeito disso a posteriori. 

Devemos, portanto, em uma simplória e humilde tarefa de tentativa-e-erro, ir testando algumas teses. Uma delas envolve ter uma maior exposição a tais empresas. 

Dito isso, é necessário que o investidor seja seletivo para não incorrer em problemas que já mencionei aqui ao falar do investimento em ações da Recrusul em 2008. 

Não me cabe aqui fazer recomendações. Mas devo destacar que a empresa em que atuei na área de relações com investidores em 2012, a Brasil Insurance Participações, merece uma certa atenção. Passei anos criticando a empresa. O preço de suas ações caiu de uma máxima próxima a R$25 para uma mínima de 50c. Recentemente, a empresa promoveu uma grande restruturação e até trocou de nome. Aparentemente, achei que fosse somente algo estético. Entretanto, ao ver suas demonstrações financeiras de 2018, detectei que a empresa promoveu uma enorme baixa contábil em seus ativos intangíveis - algo que para mim é bem promissor. 

Antes que o investidor entenda tais comentários como um certo aval para investir em tais ações, saiba que ainda considero a posição em caixa da empresa tímida. Será que a empresa precisará de mais capital? Será que isso poderá resultar em uma eventual subscrição de ações que poderá diluir os acionistas existentes?

Não tenho respostas a estas perguntas no momento. Vou investigar. Vou estudar melhor. Vou ligar para a empresa. Vou conversar com algumas pessoas que entendam mais sobre o assunto do que eu. Se for possível, vou tentar falar com algum cliente da empresa!  Vou fazer o que todo investidor deve fazer antes de embarcar na euforia e sair investindo em small caps. Dito isso, esteja certo que há oportunidades presentes nos mercados.

Marink Martins  


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