O argumento anti-recessão

30/08/2019

Não sei se você concordaria comigo se eu te dissesse que o IBOV - que hoje está em 100.500 pontos - poderia estar em 90.500 ou 110.500 pontos com este mesmo cenário econômico que se apresenta.

Naturalmente, um deslocamento de preço desta magnitude geraria um sentimento de depressão ou euforia, dependendo da direção considerada, mas, em questão de tempo, os agentes se adaptariam ao novo patamar como sempre fazem.

Escrevo isso pois, embora reconhecendo que tenho uma maior satisfação ao abordar mercados baixistas, me esforço para conceber argumentos que vão em direção oposta.

Neste sentido, vale a pena deixar hoje Louis e Charles um pouco de lado e explorar a tese apresentada pelo estrategista Will Denyer que hoje escreveu: "The Case Against Recession" (O argumento contra a possibilidade de uma recessão global).

Seu argumento não é novo e é ancorado em uma das ferramentas mais utilizadas pela casa de pesquisa Gavekal: o "Wicksellian Spread". Trata-se do diferencial entre o retorno sobre o capital investido (ROIC) e o custo de capital (WACC) das empresas norte-americanas.

Em época de curva de juros invertida, Will nos chama atenção que tal inversão é realmente problemática quando ocorre em níveis mais elevados de juros. Diz ele que quando o juro de curto prazo sobe mais do que o de longo prazo, tal "spread" fica negativo e as empresas não conseguem remunerar seu capital. Consequentemente, tais empresas embarcam em uma onda de corte de custos, reduzindo o número de funcionários, e assim, contribuindo para um cenário recessivo.

O que temos no atual momento, em sua visão, é um cenário bem mais benigno. Ele argumenta que a lucratividade das empresas americanas, embora não esteja subindo, também não está caindo. Além disso, o custo de capital se mantém bem abaixo do retorno sobre o capital investido como podemos ver na imagem abaixo:

Reforçando a sua visão otimista, há indícios de que as empresas estão retomando seus investimentos e de que o mercado imobiliário se beneficiará desta onda de taxas de juros baixíssimas.

Não é de se surpreender que, após anos de estímulos monetários, o papo agora é sobre a vinda de uma nova onda; desta vez, de estímulos fiscais e gastos com infraestrutura.

Recentemente, o Wall Street Journal, publicou um artigo a respeito de uma nova iniciativa da Alphabet (controladora da Google) direcionada a gastos com infraestrutura. Veja o comentário abaixo (em inglês):

Private infrastructure funds last year raised US$95.7bn. And so far this year have raised a further US$47bn as investors bet on infrastructure upgrades and expansion. This doesn't just mean repairing crumbling bridges in the US, but also expanding the world's railroads, gas pipelines and data centers. Alphabet, along with its subsidiary Sidewalk Labs and the Ontario Teachers' Pension Plan, plans to launch Sidewalk Infrastructure Partners to invest in what it calls "technology-enabled infrastructure", including advanced mobility, energy, water and waste, and digital and social infrastructure.

Bem, esses são certamente alguns argumentos otimistas para os mercados. Aproveitei a deixa do comentário do Will e perguntei a ele o seguinte:

Assumindo que a lucratividade das empresas americanas se mantém estável desde 2016 em meio a um mercado que se apreciou, será que diante de uma queda nos mercados todo este cenário delineado não mudará com uma rapidez inusitada? A minha impressão é que, nunca antes na história desse país (EUA), houve uma economia tão dependente do comportamento do preço das ações!

Como você pode observar, já estou eu querendo jogar água no Chopp do Will...

Um bom fim de semana a todos,

Marink Martins

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