O homem sem partido por Mariana Ratão

19/10/2019

Os deputados do PSL estão em revolta. E agora, presidente?

Enquanto deputado, o Bolsonaro nunca foi um político que morreu de amores por nenhuma legenda partidária. Pelo contrário, arrumou problemas e arestas com dirigentes partidários por onde passou: quando a situação se tornava insustentável - divergência ideológica ou pessoal - Bolsonaro simplesmente efetuava a troca de partido. Já passou por PPR (1993-95), PPB (1995-2003), PTB (2003-2005), PFL (2005), PP (2005-2016), PSC (2016-2017) e PSL (2018). Por sempre ter sido um deputado infiel, a meu ver, isto pesa muito a seu favor na opinião pública. O brasileiro, assim como o latino americano em geral, não confia em instituições políticas (e políticos). Abaixo, a confiança em instituições na América latina, medida pela pesquisa Latinobarómetro 2018. Igreja e Forças Armadas são os melhores colocados.

No quesito confiança em partidos políticos estamos, com El Salvador, em último lugar na América latina.

Dito isto, quais são as alternativas que Bolsonaro teria para conter a ira dos deputados do PSL?

1)Permanecer no partido e promover um "expurgo" eleitoral: todos os deputados contrários ao presidente seriam expulsos do PSL, gerando medo na legenda e uma "disciplina" aos deputados e senadores, para que não tentem impichar o presidente.


2)Sair do PSL e procurar o DEM. O problema aqui é sair de um partido relativamente "novo" e cair nos braços dos caciques do DEM, ACM Neto e similares, o que não causaria uma boa impressão no público.

3)Sair do PSL e travar uma batalha judicial para permanecer sem partido - e permitir que candidatos possam se eleger sem necessidade de filiação partidária. Isto já visando 2022.

Neste ano, o advogado carioca Rodrigo Mezzomo (que já foi candidato pelo partido NOVO), junto a Modesto Carvalhosa, pediu ao Supremo Tribunal Federal a liberação de candidaturas independentes (sem partido). O documento protocolado pela dupla traz um parecer favorável de Raquel Dodge. A Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 1992, assegura o direito do cidadão ser eleito sem filiação partidária. Como este tipo de tratado é considerado pelo país signatário, o pedido de Mezzomo e Carvalhosa possui respaldo, juridicamente falando. Também existe pedido semelhante na PEC no. 6/2015, de autoria do senador José Reguffe.

Julgo que a alternativa 1 possui maior chance de arranhar o capital político do presidente, pois já se ventila na mídia que ele não é um total "democrata". A alternativa 2 pode parecer que o mesmo está se aliando aos caciques eleitorais e à velha política, coisa que sempre disse ser contra. Se eu fosse conselheira de Bolsonaro, diria: ligue para Mezzomo e Carvalhosa!

Caso a situação em que Bolsonaro permaneça sem partido seja viável, há uma dupla vitória: não há "partido do presidente" para incomodar no noticiário, e a imagem de um Bolsonaro "contra o sistema" fica mais forte - aumenta suas chances de reeleição. Assim, os deputados erráticos do PSL passam a ser um incômodo a menos.

O essencial para o presidente é manter a narrativa de que ele não obedece - e nem se contenta com qualquer cúpula partidária. É isto que irá alimentar seu marketing político. Se é verdade ou não, não importa. Já diria Martin Buber, a batalha do mundo está entre a educação e a propaganda.

Um ótimo final de semana a todos,


Mariana Ratão


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