O iuane/dólar rompeu a barreira dos 7. E agora?

05/08/2019

Os ursos sentem cheiro de sangue nos mercados e acordam animados; com o nível de testosterona livre nas alturas! O motivo: a relação USD/CNY rompeu o patamar de 7 CNY / USD; algo que não ocorria desde 2008 e que é visto por muitos como um fator que poderá resultar em um processo de deflação global, afetando negativamente os mercados.

Acompanho um grupo de estrategistas situados no Colorado que estão extremamente pessimistas há anos. Hoje, bem cedo, não deixaram por menos, e disseram:

- This is it!

- Macro trade of the century is on.

- Gold in yuan terms breaking out while stocks are selling off.

- Credit bubbles always burst.

Traduzindo aqui de forma livre, eles dizem: chegou a hora! Hora de fazer a operação da sua vida! O valor do ouro medido em iuanes acaba de romper para cima ao mesmo tempo que as ações começam a derreter. Bolhas de crédito sempre estouram.

Confesso que acordei mais animado também, mas tento aqui honrar o meu comprometimento de ser objetivo com você que me acompanha.

Nesta manhã o grupo mais otimista dentro da Gavekal nos chama atenção ao fato de que nas duas ocasiões em que as tensões entre a China e os EUA se escalaram os mercados reagiram mal, caindo -20% (set-dez/2018) e -6,8% (maio/2019). Eles acreditam que há espaço para uma reprecificação nos ativos no curto prazo, mas não veem um cenário catastrófico. O principal argumento é que o FED tem espaço para manobra e, mais importante, uma expectativa de sustentabilidade das margens de lucro das empresas americanas.

A verdade é que a confiança é um dos fatores mais importantes nos mercados. Se o S&P 500 vem subindo de forma expressiva mesmo após a derrocada vista em dezembro/2018 é porque há a confiança de que, em último caso, o FED irá fazer o que for necessário para sustentar os mercados - refiro-me a tal da PUT do FED.

Contudo, Trump, de forma unilateral, fez uma manobra arriscada. Será que o mercado dará o benefício da dúvida ao líder americano, acreditando em seu plano B? Ninguém sabe. O fato é que o VIX está subindo e já supera o patamar de 20%. A taxa dos títulos de 10 anos dos EUA já cai para 1.7%.

Louis-Vincent Gave questiona se, assim como o Acordo de Plaza assinado em 1985 foi ignorado no verão de 1987 -- culminando no colapso nos mercados em setembro daquele ano -- será que o movimento trumpiano representa o colapso do acordo "assinado" em fevereiro de 2016, conhecido como Acordo de Xangai?

Concluo este texto aqui resgatando uma tese já apresentada em abril quanto as alternativas de retaliação por parte dos chineses. Uma das formas consideradas é a compra direta de petróleo iraniano. Não se esqueçam do gráfico abaixo que nos mostra que, em dezembro de 2018 - apesar de sinais de que uma recessão estava por vir - os chineses registraram um recorde (na década) de compras da commodities. Os estrategistas interpretaram este movimento como uma preparação para um cenário mais adverso.

Qualquer movimento neste sentido (envolvendo o Irã), não só irritaria os americanos, mas jogaria o preço do petróleo para baixo - provocando uma enorme deterioração no risco de crédito das petrolíferas americanas atuando na área do xisto. Seria algo análogo ao que vimos durante na passagem do ano de 2015 para o ano de 2016.

Este é um cenário tão negativo que é bem mais provável que não ocorra. De qualquer forma, fique atento a todas as preocupações que mencionei no Insights de Mercado enviado a você na sexta-feira: Sobre a Petrobras, MSCI, eleições nos EUA e empolgação digital no mercado brasileiro. Ao contrário do que muitos pensam, agosto é, historicamente, o pior mês, em termos de performance, para o índice S&P 500. 

Marink Martins   

www.myvol.com.br