O mundo de olho na relação dólar/iuane

17/05/2019

E a guerra comercial entre os EUA e a China está fazendo aniversário! Certo estava Arthur Kroeber, chefe de pesquisa da Gavekal, ao denominá-la "War of Attrition" (guerra de exaustão) e nos chamar atenção a respeito da possibilidade de que tal confronto estará com a gente por muito anos.

Inebriada pela retórica trumpiana que invoca um sentimento nacionalista perigoso, a mídia financeira norte-americana parece ignorar o poder de reação dos chineses em meio aos ataques direcionados a empresa Huawei, que hoje é a líder global em tecnologia 5G. Há a percepção de que os EUA farão com a Huawei o mesmo que foi feito com a empresa ZTE - praticamente aniquilando a empresa em alguns dias. Diante disso tudo, o investidor deve perguntar: o que pode dar errado? Ou, o que pode fazer o chinês diante destas ameaças?

Para começar, eles podem "manufaturar" uma espécie de "deval" em sua moeda, fazendo com que a moeda americana passe a valer mais do que 7 iuanes. No fim de 2015, início de 2016, o mundo tremeu diante da desvalorização da moeda chinesa que, combinada com a perda de valor de importantes commodities, fez com que o índice S&P 500 registrasse um dos piores inícios de ano de sua história.

E é justamente aí que reside (ou talvez resida) o poder de barganha chinês para forçar uma postura mais conciliadora por parte dos americanos. Em suma, acredita-se que uma desvalorização da moeda chinesa poderá contribuir para uma queda nas bolsas globais, trazendo uma maior volatilidade e incerteza para a economia americana.

O "maestro" Alan Greenspan já disse: uma alta ou queda de 10% no índice S&P 500 hoje impacta o PIB em quase meio por cento. Isso é simplesmente inusitado na história dos EUA e traz consigo uma elevada probabilidade de que algo adverso poderá ocorrer nos próximos meses.

Mas, por que uma desvalorização no iuane seria tão negativo assim? Bem, há uma interpretação que tal evento gere um importante impulso deflacionário mundo afora. A China é grande compradora de commodities como podemos observar através do gráfico abaixo.

No gráfico acima vemos que a China gasta bilhões de dólares a cada ano importando commodities. Dentre elas, de cima para baixo, temos: minério de ferro, cobre, carvão, soja e petróleo.

Ações de empresas como a Vale, por exemplo, tendem a sofrer em caso de um enfraquecimento da moeda chinesa. E se você acha que os EUA conseguiriam sair imunes de um movimento como esse, saiba que aproximadamente 40% do lucro das empresas do índice S&P 500 advém de operações internacionais.

Há um ano, no início da guerra comercial, havia uma dúvida quanto a postura americana. Havia uma discussão a respeito de que grupo exerceria uma maior influência sobre a política externa de Trump - seriam os globalistas ou os "linha dura" da soberania nacional? Não há dúvidas que os globalistas estão perdendo a batalha. E diante desse cenário, os investidores devem ficar atentos a possibilidade de que o risco precificado pelo mercado, através dos contratos derivativos, esteja inadequado. "Mas os mercados não são eficientes?" perguntaria um recém-formado. Sim, no mundo do Platão e nas quatro paredes da universidade.

Em 1987, como você muito bem sabe, houve um evento que ficou conhecido como "Black Monday" - um dia em que os principais índices caíram mais de 23% em um único dia. Sabe qual foi o vilão daquela história? "Portfolio Insurance"! Vou explorar este tema durante este fim de semana no MyVOL pois há algo análogo -- mas em menor proporção -- ocorrendo na bolsa brasileira.

Marink Martins  

www.myvol.com.br