O "short squeeze" da TESLA

04/02/2020

Algo está definitivamente fora de ordem. Ontem tivemos o maior estímulo monetário da história em um único dia!

Paralelamente, a fabricante de carros elétricos norte-americana, TESLA, não para de subir em um "short-squeeze" análogo aquele visto nas ações da VW em outubro de 2008, quando o preço das ações da montadora germânica subiu de 200 euros para 1.000 euros em uma semana.

O gestor Ron Baron, em entrevista nesta manhã na CNBC disse acreditar que a TESLA terá receitas de um trilhão de dólares em 2030.

Agora, reflita sobre a afirmação acima! Se dividirmos um trilhão por US$20.000 (minha estimativa do custo médio de automóvel nos EUA), teríamos 50 milhões de veículos!!! Um número ridículo se assumirmos que o total de veículos vendidos nos EUA está estagnado em 17,5 milhões por ano. Mas, mesmo que você acredite que tal receita viria da venda de baterias e outros itens, as implicações de tal afirmação seriam avassaladoras. Acreditar na afirmação de Barron é também acreditar que a GM, a Ford, a Fiat Chrysler, a VW, a BMW e, todas as outras, estarão quebradas em um curto espaço de tempo.

No gráfico acima temos o número de automóveis vendidos nos EUA. Observe como tal número está estagnado desde a virada do milênio. Assim, imaginar vendas de US$1 trilhão na TESLA, neste momento, parece ser uma aberração!

Uma vez questionado sobre o processo de automação das fábricas, Henry Ford disse:

"How Will You Get Robots to Pay Union Dues?" "How Will You Get Robots to Buy Cars?"

Em tradução livre, "Como fazer com que os robôs contribuam para os sindicatos? Como fazer com que os robôs comprem carros?

O fato é que o preço das ações da TESLA sobe turbinado por uma percepção de que a empresa não só irá sobreviver, mas poderá ser uma das mais dominantes dos próximos anos. Esta transição ocorre em um momento em que o percentual de ações vendidas a descoberto na empresa se aproximava de 20% da quantidade disponível no mercado ("free float"). De acordo com a CNBC, mesmo após esta expressiva alta, o volume vendido a descoberto está em aproximadamente 25 milhões de ações, ou 14% do valor de mercado!

O que ocorre com as ações da TESLA é certamente um sintoma deste excesso de liquidez que comento quase que diariamente por aqui. Não faz muito tempo, algo similar ocorreu com as ações da empresa Beyond Meat - aquela que atua na produção de carne alternativa.

Por aqui temos também indícios de um comportamento insano nas bolsas com ações de algumas empresas precificadas como se tais fossem empresas de tecnologia norte-americana. Só uma aposta de que um "White Knight" (eventual comprador estrangeiro) irá surgir ao longo do caminho para justificar o preço de algumas empresas associadas ao varejo digital brasileiro.

O dia de ontem foi marcado por um forte recuo nas ações da empresa IRB Resseguros (IRBR3) devido a revelações feitas pela gestora Squadra Investimentos que apontam para um eventual declínio no lucro recorrente da empresa. Ao ler a Carta Mensal enviada aos investidores, me chamou atenção o fato da Gestora detectar um expressivo aumento nos recebíveis da empresa.

Julgo que isso é preocupante pois, não faz muito tempo, uma outra empresa, também no ramo de seguros (uma corretora de seguros), surpreendeu o mercado com uma série de baixas contábeis que levou o preço de suas ações a cair 95% em um prazo de 3 anos.

Bem, cada empresa tem sua história e nenhuma empresa deve ser punida pelas irresponsabilidades cometidas por outras empresas, mesmo que estas atuem no mesmo segmento. Dito isso, o investidor mais cauteloso deve se familiarizar com a obra do economista americano John Kenneth Galbraith, e entender que, durante períodos de otimismo, o volume de fraudes presentes nos mercados dispara. (A essa tendência Galbraith deu o nome de "Bezzle").

Marink Martins

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