O sucesso na bolsa brasileira tende a ser efêmero!

19/08/2019

Hoje é o aniversário de 15 anos do IPO da Google. Lembro-me bem desta data em 2004 pois se tratou de uma operação diferenciada: um leilão holandês que resultou em um preço de IPO de US$85,00 por ação. Ao contrário do que ocorre hoje em dia, quem quis comprar ações da Google conseguiu fazer isso tranquilamente sem ter que sair pagando qualquer preço no mercado.

Aqueles disciplinados que compraram naquela data, e até hoje as mantém em carteira, acumularam um resultado de 2.672% no período, ou aproximadamente 24,5% ao ano. Coincidentemente, este resultado é praticamente o mesmo obtido por investidores que apostaram em Warren Buffet durante os anos entre 1957 e 1968 - período em que Buffet era um administrador de carteiras. Posteriormente, o oráculo de Omaha passou a gerir os seus negócios através da holding Berkshire Hathaway, registrando retornos anuais de 20,6% ao ano entre 1965 e 2018.

Observe que os retornos registrados pela Berkshire nos últimos 10 anos estão abaixo daqueles registrados pelo índice S&P 500, o que sinaliza que o mais famoso gestor global, assim como a maioria dos gestores de hedge funds no mundo, não vem conseguindo acompanhar este longo ciclo altista das bolsas norte-americanas.

Mas, e as ações brasileiras? Por que por aqui parece ser difícil para uma empresa registrar um longo ciclo de valorização?

Temos empresas com resultados invejáveis ao longo do mesmo ciclo: Ambev, Lojas Americanas, e mais recentemente, Magazine Luiza, são bons exemplos. Mas, as duas primeiras deixaram a desejar, em termos de resultados em dólares, nos últimos anos.

O ponto que procuro estabelecer aqui é o seguinte: na ausência de inovação é quase impossível que uma empresa cresça por um longo período.

O argumento pode parecer óbvio, mas há uma sutileza que busco destacar. O meu ponto é que a única variável capaz de quebrar um ciclo intrínseco de sobrevalorização/subvalorização é a inovação.

Sem ela, o valor de uma boa empresa acaba, eventualmente, atingindo níveis de sobrevalorização que a deixa vulnerável às forças de reversão à média presentes nos mercados.

De 2009 a 2014 o preço das ações da Ambev disparou até que a empresa começou a negociar a múltiplos de preço/lucro insustentáveis. Não é à toa que o preço de suas ações está estagnado nos últimos cinco anos.

Eu poderia aqui citar outros exemplos. Mas, deixo você com a seguinte mensagem:

A taxa de valorização das ações de empresas brasileiras tende a reverter a média em um horizonte de tempo que é significativamente inferior àquele observado em países desenvolvidos devido à ausência de inovação. (observe que não estou falando do preço, mas sim da taxa de valorização)

Em raras situações onde há inovação, o mais provável é vermos uma operação de incorporação por uma multinacional. Sendo assim, se sua empresa favorita registrou forte alta nos últimos anos e negocia a um múltiplo superior a 30x o seu lucro projetado, saiba que as forças de reversão à média já estão fazendo o seu trabalho. 

Marink Martins

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