Opacidade: onde a magia e a maldade acontecem

Quando falamos de mercado de capitais, é justamente na opacidade onde a magia e a maldade florescem. Isso ajuda a explicar o sucesso histórico do Private Equity nos EUA — um ambiente em que pouca visibilidade permite narrativas exuberantes, valuations agressivos e uma assimetria gigante entre quem estrutura o negócio e quem compra lá na frente.
O mesmo vale para os valuations quase esotéricos de players como OpenAI, Anthropic e afins. Agora, com o governo americano permitindo que planos de aposentadoria (tipo 401k) invistam em ativos ilíquidos e opacos, surge um risco óbvio: o trabalhador comum pode acabar comprando esses ativos nos preços mais altos do ciclo. É o velho problema de socializar o risco e privatizar o upside.
Mas meu ponto central é outro: a opacidade está se infiltrando até na política monetária.
Com o recente shutdown, o FED está operando com uma escassez incomum de dados. E aqui fica a contradição: como continuar "data dependent" quando os próprios dados diminuem? O espaço para subjetividade cresce — e com ele, o risco de decisões guiadas por narrativa, e não por evidência.
Se há um ponto frágil no meu raciocínio é este: será que essa opacidade é um erro... ou uma ferramenta? Será que o FED realmente depende dos dados ou sempre teve mais margem discricionária do que admite? E no caso dos valuations privados, será que estamos subestimando o potencial genuíno da IA e confundindo incerteza com má fé?
De qualquer forma, vale observar:
quando o mercado fica opaco, alguém está ganhando muito — e não costuma ser o investidor comum.
Marink
