Os BCs hoje são meros prisioneiros

13/04/2020

Acredito que devemos ser gratos a existência dos bancos centrais em momentos de crise. Sem um comprador de última instância, as quedas em momentos de enorme incerteza certamente seriam mais avassaladoras. Há quem acredite que o índice S&P 500 teria se desvalorizado entre 50% e 80% na ausência do FED durante o mês de março deste ano. Outros já pensam que é justamente a presença do FED que contribui para a elevada vulnerabilidade dos mercados. Seja o que for, é importante entendermos uma peculiaridade presente nos mercados contemporâneos.

Vivemos em um mercado dominado por operações que exigem um balanceamento dinâmico das carteiras. Refiro-me aqui a operações conhecidas como "risk parity", "dynamic hedging" e outras. De forma simplificada, tratam-se de operações que se potencializam na medida em que os preços se deslocam em uma determinada direção. Isto é, vendas chamam mais vendas e compras chamam mais compras.

Isso não é novo e esteve presente no crash de 1987 no evento que ficou conhecido como Black Monday. A presença de um comprador de última instância, em casos de desequilíbrios no mercado, torna-se essencial.

No passado, tal papel era desempenhado por "Market Makers" como a Goldman Sachs, Lehman Brothers, e outros. Contudo, uma maior regulamentação dos mercados durante o período que sucedeu a crise financeira de 2008 removeu tal poder destas instituições. Algumas, como foi o caso da Lehman, nem sequer existem mais. Com isso, passamos a conviver com uma presença cada vez mais forte dos bancos centrais.

Só nos EUA - ao longo dos últimos dez anos - tivemos que conviver com 3 estímulos quantitativos e uma operação twist. Hoje, vivemos a maior intervenção da história que inclui não só um QE4, mas o FED se intrometendo diretamente em títulos de características especulativas. Aqui no Brasil, não foi muito diferente. Na época em que o BC era comandado por Tombini, vivemos, por um bom tempo, com uma taxa de câmbio artificialmente baixa por razões políticas.

O grande problema disso tudo é que as medidas hoje impostas pelos BCs são tão relevantes para os mercados que muitos acreditam que não há um caminho de volta. Os BCs estão presos em uma espécie de Hotel California dos juros baixos - um mundo onde é fácil entrar e impossível sair! Aqui na MyCAP gravamos um vídeo explorando este tema. Na ocasião da gravação, em dezembro de 2019, falei sobre o custo de carregamento da dívida americana. Pois é, em menos de 6 meses, devido a epidemia, o mundo piorou de forma significativa, forçando intervenções trilionárias. Confira o vídeo ao clicar abaixo.

Por tudo isso, confesso que estou cada vez mais cético quanto a possibilidade de bancos centrais independentes. A necessidade de financiamento dos tesouros nacionais é tão grande que o melhor é aceitarmos a tese de que os BCs são agora meros prisioneiros.

Marink Martins

www.myvol.com.br