Os últimos dois dias de mercado

06/11/2020

A percepção do que ocorreu nos mercados de ações globais nestes últimos dois dias nos EUA é que, aquilo que deu certo nos últimos meses, continuará atraindo cada vez mais capital. Assim, empresas norte-americanas do setor de tecnologia -- beneficiadas pelo fenômeno "stay-at-home" - se valorizaram de forma expressiva a despeito de um "valuation" esticado.

Note que os mercados vinham se preparando para um movimento diferente. Nos dias que antecederam a eleição estava em curso um movimento de rotação setorial que favorecia commodities, bens duráveis e mercados emergentes.

A eleição de Biden (embora ainda não confirmada oficialmente) não veio junto a uma "onda azul" como muitos temiam.

Com isso, o receio de um "green new deal" e de aumento de impostos foram colocados de lado, abrindo espaço para um forte movimento especulativo em plena fase de divulgação de resultados do terceiro trimestre. A demanda por ações de empresas com narrativas encorajadoras ("growth stocks") é tão grande que, hoje em dia, basta a divulgação de aumento de receita que as ações disparam.

Como sempre ocorre em momentos de euforia, a atenção às notas explicativas diminui substancialmente. Todavia, momentos especulativos são sempre acompanhados pelo famoso questionamento anglicano: "Who Cares?" (Quem se importa?)

Aqueles que se importam provavelmente estão "tomando calor" nos mercados ou estão observando de fora.

Dois eventos globais contribuíram de forma significativa para o "rally" americano: a suspensão do IPO do Ant Goup e a volta dos "lockdowns" na Europa.

Poucos discutem, mas o dólar já sofreu uma mega desvalorização frente a moeda chinesa; algo não capturado pelo DXY (Dollar Index) que atribui muito peso para a relação dólar / euro. Essa valorização do iuane é algo que, historicamente, tende a ser positiva para mercados emergentes.

Por tudo isso, fica a pergunta: será que entramos em um novo período, com uma tendência de alta mais clara?

Na entrevista concedida por Jerome Powell ontem, pensei: aquele que ouve o líder do FED enfatizando a dificuldades da economia real tem serias dificuldades de entender o que ocorre no mercado de ações. Mas, não tem sido essa a tônica durante quase todo o ano de 2020?

O texto de hoje pode estar meio solto, com diversas ideias desconexas. Tento aqui expor algumas das narrativas que circulam pela mídia - principalmente a americana.

Está tudo meio caótico e isso é normal. É necessário um tempo até que o mercado se ajuste a uma nova realidade. O que vimos até agora foi um movimento que se beneficiou, em parte, de um movimento de zeragem por aqueles que apostaram na tese da onda azul que abriria espaço para um movimento avesso ao setor de tecnologia dos EUA. 

Em breve, teremos a declaração oficial de Biden como presidente, e os mercados voltarão a se preocupar com a segunda onda da pandemia e com o potencial de chegada de novas vacinas.

Mais importante: a decisão do controle do congresso americano ainda está pendente devido ao empate técnico na disputa pelo senado no estado da Georgia. Esse é um evento que poderá trazer características binárias ao mercado. Contudo, tal definição poderá ficar para janeiro e ser, momentaneamente, ignorada pelos mercados.

Marink Martins

www.myvol.com.br