Ponto de Volatilidade Crítica

10/04/2019

Por acaso você saberia dizer qual é a volatilidade anualizada dos últimos três meses do Ibovespa? Faço esta pergunta pois desejo que você passe a avaliar o mercado com um novo olhar; um que leve em consideração a expectativa de volatilidade embutida nos contratos negociados no mercado.

Ao saber tal nível de volatilidade você passa a ter uma ideia do que está por vir ou, pelo menos, do que o mercado espera em termos de oscilação para o ativo em questão (neste caso, o Ibovespa) para os próximos dias de negociação.

E caso o termo volatilidade seja algo completamente estranho a você, saiba que se trata de uma medida dispersão. De forma mais simples, trata-se de uma observação estatística que mede o quanto o preço de um ativo oscila em torno de sua própria média durante um determinado período. Ativos mais voláteis oscilam bastante; os menos voláteis, ficam ali próximos as suas respectivas médias no período de análise. Em termos estatísticos, buscamos saber o desvio padrão diário do ativo em questão. De posse deste número, o convertemos para uma medida anualizada.

Assim, ao dizer que a volatilidade do IBOV para os últimos 3 meses é de 16% ao ano, inferimos que tal indicador oscilou, em média, 1% ao dia no período. Chega-se a tal número dividindo a taxa anual (16%) pela raiz quadrada de 252 dias úteis (15,87).

Mas devo confessar aqui que não sou muito fã de dados históricos. Mais interessante é saber a expectativa do mercado para o que deve ocorrer nos próximos dias.

Para ter acesso a tal expectativa devemos olhar para a volatilidade implícita nos contratos de opções associados ao IBOV. Embora tal indicador não nos mostre o que, de fato, irá acontecer, ele ilustra a tal expectativa do mercado.

Neste momento você talvez esteja se questionando a respeito de como este indicador é observado. Existe uma cotação na bolsa?

Nos EUA este indicador já é popular e seu valor pode ser obtido facilmente através do ticker VIX que mede a volatilidade implícita média dos contratos de opções associados ao índice S&P 500. Aqui no Brasil, embora ainda estejamos engatinhando na precificação deste tipo de derivativo, podemos extraí-lo através de calculadoras, ou mesmo, obtê-lo através do site da B3.

Agora -- entrando de fato no tema que é o título deste texto -- existe um nível de volatilidade que é considerado crítico.

O estrategista Didier Darcet, atuando pela Gavekal Intelligence, fez uma análise sobre o grau de antifragilidade de diversos índices globais comparando retornos passados com respectivos níveis de volatilidade.

Sua conclusão é que praticamente todos os índices globais de renda variável são frágeis.

Em outras palavras, ele concluiu que, a partir de um certo nível de volatilidade ("critical variance"), há uma expectativa de que o retorno subsequente registrado pelo índice em questão passe a ser negativo.

Observe o gráfico abaixo e veja os pontos críticos de volatilidade associado ao principal índice de renda variável de diversos países: 

Como podemos observar no gráfico acima, os pontos críticos de volatilidade para o Brasil (IBOV) e para o EUA (S&P 500) são bem próximos, ao redor do patamar de 22%. Isso quer dizer que, no passado, quando tais índices entraram em períodos voláteis (superiores a 22% ao ano), em média, o retorno registrado no período de análise subsequente foi negativo.

Como praticante veterano no mercado de opções brasileiro, afirmo que, embora tal conclusão não me surpreenda (sempre existiu uma premissa conhecida como "maket down/vol up!"), acho bastante interessante o conceito de ponto de volatilidade crítica. Temos agora uma ferramenta a mais para nos ajudar no dia a dia dos mercados.

Sendo assim, agora que você já dispõe deste conhecimento, não deixe de buscar saber qual é o VOL do IBOV antes de fazer suas apostas direcionais na bolsa brasileira.

Marink Martins

www.myvol.com.br