Por trás da euforia
Não há duvidas que o mercado está em festa. A bolsa está forte, registrando novos recordes com volumes expressivos. Há otimismo com relação a retomada da economia que já pode ser evidenciado através de um repique de consumo em diversos setores. Relatórios do Credit Suisse, BTG Pactual e da Empiricus sugerem um fluxo intenso de recursos para a bolsa brasileira. Não é à toa que o Ibovespa subiu aproximadamente 10.000 pontos em um pouco mais de um mês.
Além de estímulos econômicos como aquele oriundo de recursos do FGTS, tivemos também (já era hora!) a unificação das "clearings" da B3, algo que resultou na liberação de aproximadamente R$21b em garantias. Quem tem acesso ao relatório CM-TINS preparado pela CBLC irá notar um incremento de aproximadamente 35% em suas garantias. Pelo menos foi isso que notei ao analisar as minhas garantias depositadas. Tudo isso funciona como uma espécie de "Quantitative Easing" (QE) (aquele termo muitas vezes associado a decisões do FED) para os investidores brasileiros.
Entrar na frente de um "caminhão" que se move em alta velocidade seria loucura neste momento. Mesmo assim, é importante notarmos, do ponto de vista tático, que o mercado tende ao exagero; seja na alta ou na baixa. O gráfico abaixo, preparado pelo Banco BTG Pactual, nos mostra a relação de P/L projetada para a bolsa com base em expectativas de lucro para os próximos 12 meses, excluindo as ações da Petrobras e da Vale. O gráfico capta somente até o mês de julho/2017. Desde então, tanto o numerador desta relação (os preços) como o denominador (os lucros projetados) subiram. Não sabemos de forma precisa qual deles andou mais rápido. De qualquer forma, menciono com frequência tal indicador com o objetivo de sinalizar que o "preço" do mercado passa a ser um ponto de vulnerabilidade.
Não é raro ouvirmos analistas dizendo que quando encontramos uma empresa de qualidade, o preço da ação se torna irrelevante. Não é bem assim. Existem inúmeros exemplos de boas empresas que passaram por longos períodos de "underperformance" justamente pelo fato do preço de suas ações, no momento inicial da análise, estar negociando em um patamar elevado demais. Um caso comum que me vem a mente é o caso da Microsoft que passou por 10 anos de "underperformance" por diversas razões, sendo que uma delas era o elevado de suas ações no início da década passada. Dito isso, vale ressaltar que as ações da Microsoft, diferente de qualquer ação brasileira, era uma ação "widely held"; uma na qual sua base acionária encontrava-se distribuída nas mãos de um grande número de gestores globais.
Nos próximos dias, investidores deverão estar atentos a divulgação de resultados dos bancos norte-americanos. De acordo com Jim Cramer, um otimista nato, qualquer divulgação "longe da perfeição" poderá frustrar os investidores.
Marink Martins, CNPI