Possíveis reações chinesas ao ataque à Huawei

29/05/2019

Há quem suspeite que os chineses venham utilizar o que, para muitos, é considerado uma "opção nuclear" de venda de seus títulos do tesouro americano. Uma outra alternativa discutida é limitar as exportações de metais de terras raras (em inglês, "rare earths") que são elementos essenciais na produção de diversos produtos como baterias, turbinas, celulares e outros.

Entretanto, para aqueles mais sintonizados com a forma como a revolução comunista se deu na China, o mais provável é que os chineses fujam do combate frontal e busquem um caminho que, mesmo que mais longo, apresente melhores probabilidades de vitória no longo prazo.

Sendo assim, as alternativas discutidas acima podem até ser interessantes para uma eventual série da Netflix, mas não devem ser consideradas no curto prazo.

Estrategistas apontam para o retorno da velha prática de "utilizar" a Coréia do Norte como uma ameaça desestabilizadora e, assim, provocar algo que pode ser visto como um retrocesso dentre as inciativas de Trump.

Uma outra alternativa tem a ver com restabelecer as condições de mercado presentes no fim de 2015 e início de 2016. Neste sentido, especula-se que os chineses poderão reduzir as compras de barris de petróleo e provocar uma queda nos preços das commodities. Isso não só melhoraria suas contas externas, mas também colocaria pressão nas endividadas empresas envolvidas na produção de petróleo e gás de xisto nos EUA. Tal especulação advém do fato de que os chineses passaram os últimos meses elevando seus estoques da commodity.

O gráfico acima nos mostra que, no fim de 2018, apesar de uma desaceração no crescimento econômico chinês, as importações de petróleo feitas pelo país dispararam. Estariam os chineses se preparando para uma guerra comercial mais longa?

E por falar em estoque, há fortes indícios de que uma boa parte da valorização vista nos mercados no início de 2019 esteja relacionada ao fato de que empresas chinesas aproveitaram o momento para elevar seus estoques em preparação para uma guerra comercial mais longa.

Sendo assim, cresce a possibilidade de retração na economia global durante o segundo semestre deste ano!

Agora, no que diz respeito ao Brasil, há sinais animadores, mesmo levando em consideração um cenário internacional mais adverso.

Com a melhora nas perspectivas políticas após as manifestações do último domingo, o grande entrave para a bolsa brasileira talvez seja uma deterioração do cenário econômico global através de uma desvalorização mais forte da moeda chinesa. Embora tal alternativa não esteja descartada, há quem acredite que um iuane muito mais fraco - acima de 7 iuanes por dólar - iria contribuir para a retórica anti-China promovida por Donald Trump. Por isso mesmo, alguns estrategistas atribuem uma menor probabilidade para esta alternativa cambial.

Bem, tudo indica que esta guerra comercial tende a ser mesmo uma guerra exaustão que poderá eventualmente se transformar até em uma guerra fria. Da minha parte, continuo a explorar a tese que os preços dos ativos globais ainda não refletem o processo de disrupção em curso associado a criação de novas cadeias de suprimentos globais (Vietnam e outras alternativas). Em paralelo, pouco se fala sobre os impactos das eleições europeias realizadas nos últimos dias, que tendem a promover novos embates orçamentários na região (as ações do Deutsche Bank não param de cair).

Marink Martins

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