Possível disrupção no "supply chain" automotivo mundial

08/03/2018

Estamos no início de um ciclo marcado pelo retorno da volatilidade. Retorno esse que tem como catalizador questões de natureza macroeconômicas que exercem enorme influência sobre os preços dos ativos.

Em meu último "post" colocado nas redes sociais ontem, disse que Trump deverá fazer um anúncio hoje excluindo o Canadá, o México e outros de sua lista de países que sofrerão uma imposição de tarifas sobre a importação de aço e de alumínio. Disse também que tal notícia deverá ser bem recebida pelo mercado conforme apontado pelo sempre bem informado Jim Cramer, âncora do programa Mad Money no canal CNBC.

Hoje, com mais notícias à disposição, parece que as incertezas geradas pelas medidas de Trump não se dizimarão rapidamente.

Muito pelo contrário. Por mais louco que pareça, Trump, paradoxalmente, exerce uma coerência com seu discurso pré-eleição. Como cidadão americano, ele se diz injustiçado e prometera lutar por relações comerciais mais justas no que diz respeito ao comercio com a China e com a Europa. Em meio a tal discurso, prometera condições mais competitivas não só para produtores de aço (US Steel), mas também para os fabricantes automotivos de Detroit.

E é justamente aí, no comércio de automóveis entre os EUA e a Europa, que reside um grande potencial para um escalonamento nas tensões comerciais.

Em meio a um comércio bilateral anual de US$610 bilhõe entre EUA e a Europa, o primeiro tem um déficit comercial de US$120 bilhões em suas negociações com o segundo. Deste total, 30% refere-se ao setor automotivo onde 90% das exportações europeias originam-se na Alemanha.

Tudo indica que Trump não só quer impor tarifas sobre o aço mas deseja também, aproveitar a ocasião, para reformular o NAFTA (Acordo de livre comércio da América do Norte). Neste sentido, a Casa Branca pretende aumentar o percentual de exigência de conteúdo local de 62,5% para 85% e exigir que 50% de todas as peças automotivas sejam produzidas nos EUA.

Caso tais medidas sejam de fato propostas, será algo com um enorme potencial de disrupção, pois fabricantes alemães passaram anos desenvolvendo suas cadeias de suprimentos ("supply chain") no México.

Mais importante é que tais medidas trazem consigo um potencial inflacionário justamente em um ano em que os bancos centrais iniciam um processo de normalização das taxas de juros.

O mundo passou anos colhendo os frutos da globalização através de um processo des-inflacionário. Tudo indica que teremos ajustes pela frente, e como sempre, tais ajustes necessitam de um período de adaptação e acomodação.

Finalizo aqui lembrando mais uma vez as falas do professor Luigi Zingales (Univ. de Chicago) em evento da B3 em Campos de Jordão: Os EUA cada vez mais se assemelham a um país latino. Imposição de tarifas, mudança nas regras de conteúdo local, ... Uhm, sei não! Acho que já ouvi isso antes em algum lugar "South of the Border"!

Marink Martins

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