"WAR on CASH"

09/10/2019

Na tarde de ontem tivemos um importante anúncio feito por Jerome Powell, presidente do FED. Em sua última entrevista antes da próxima reunião da instituição, marcada para o dia 30/10, Powell anunciou a retomada da expansão monetária nos EUA.

Cuidadoso ao tentar evitar com que a mídia financeira denominasse tal evento como uma quarta onda de estímulos quantitativos (QE4), ele disse se tratar de uma retomada do crescimento orgânico dos ativos da instituição.

O gráfico abaixo nos ajuda a entender melhor o que fora anunciado:

Sabe-se que os bancos recolhem compulsoriamente um percentual de seus depósitos (área azul). Contudo, desde a grande crise financeira de 2008, vimos uma enorme expansão dos ativos do banco central em uma linha conhecida como "depósitos excendentes" que, em inglês, é conhecido como "excesso reserves" (área preta). O crescimento de tais depósitos se deu devidos a três ondas de estímulos quantitativos onde o FED comprava títulos depositados nos bancos pagando por tais títulos em reservas bancárias. Esta reserva excedente não é só remunerada, mas passou a representar uma importante fonte de receita para os bancos.

O objetivo de todo este processo era de fortalecer o sistema bancário e gerar condições para que as instituições pudessem canalizar tais recursos para o setor produtor da economia através do crédito.

Embora as operações de crédito tenham se expandido, houve também um "empoçamento" destas reservas que ficaram paradas no FED. Cientes dos riscos presentes na economia, muitos banqueiros optaram por "estacionar" tais reservas por lá mesmo, ao invés de incorrer em políticas creditícias com potencial elevado de perdas. Críticos dizem que boa parte destas reservas se transformou em crédito direcionado a grandes empresas que fizeram uso do caixa para recomprar suas ações e outras extravagancias. 

O que o FED se propõe a fazer neste momento é permitir que estas reservas excedentes voltem a crescer. Como? Utilizando os recursos da instituição para comprar títulos de curto prazo estacionados nas carteiras dos bancos. Isso deve promover uma normalização da curva de juros norte-americana, e passar um sinal mais positivo para os mercados.

A reação vista ontem, logo após o anúncio, foi tímida pois ocorreu justamente na mesma hora em que a Casa Branca anunciava medidas contra os chineses.

Mas, ainda sobre o gráfico acima... temos a enorme área vermelha do gráfico que denota a quantidade de dinheiro em circulação nos EUA.

Observe que o valor de todas as notas que circulam por aí não é suficiente para comprar todas as ações existentes da Apple e a Microsoft ao mesmo tempo. As duas juntas valem mais de 2 trilhões de dólares! O total em circulação é de US$1,8 bilhão. Sei que você pode sempre pagar com VISA ou Mastercard (desculpem, mas ELO não é aceito). Porém, uma mensagem implícita nesta análise nos chama atenção a respeito de como as gigantes de tecnologia se valorizaram. O preço de suas ações, não só subiu mais rápido do que a quantidade de dinheiro em circulação, mas também do que a quantidade de lucro gerado por essas empresas. Exploro este tema no quarto episódio da série de podcasts 2020 - O Ano da Turbulência que você pode acessar através do www.myvol.com.br

Marink Martins  

www.myvol.com.br