"QE or not QE"?

11/12/2019

Após a falta de liquidez vivida nos mercados americanos ao longo do mês de setembro deste ano - aquela que culminou na explosão das taxas em operações compromissadas de um dia; levando-as a 10%/ano - não restou alternativa ao FED senão voltar a expandir seus ativos em um processo em que a autoridade monetária adquire títulos dos bancos em troca de reservas bancárias.

Se essa iniciativa é denominada "Quantitative Easing ("QE" - em português, afrouxamento quantitativo) ou não ("not QE"), tem a ver com o prazo dos títulos adquiridos. Ao contrário do que ocorreu nas três intervenções anteriores feitas após a crise de 2008, desta vez o FED compra somente títulos de curtíssimo prazo ("treasury bills") ao invés dos de prazos mais longos ("treasury bonds"). E é justamente por esta diferenciação que Jerome Powell diz que a operação em curso não se trata de um QE.

Tecnicalidades a parte, o importante aqui é dizer que um reconhecido estrategista do Credit Suisse, Zoltan Pozsar, nos diz que é somente uma questão de semanas para que o FED seja forçado a expandir o seu programa de recompras de títulos, passando a incluir também títulos de longo prazo. A razão para tal prognóstico, de acordo com o analista, diz respeito a uma premissa de que muitos bancos americanos fizeram uma espécie de "front running" em cima do FED e saíram adquirindo títulos de longo prazo na expectativa de vendê-los para a autoridade monetária. O processo provocou uma espécie de descasamento de ativos que forçará a autoridade monetária a ser condescendente com suas instituições afiliadas.

Talvez tudo isso seja uma especulação por parte do estrategista do Credit Suisse. Mas, mercado é sempre tentativa e erro. Como estrategistas de nossas próprias carteiras, nos cabe avaliar cenários, traçar possíveis consequências e atribuir probabilidades para tais eventos.

Um QE4 de fato - similar aqueles realizados no início da década - seria bem positivo para mercados emergentes e contribuiria para derrubar o dólar em relação a diversas moedas; principalmente moedas de países emergentes como o Brasil.

Finalizo com o gráfico do ETF EWZ que representa uma cesta com ações das principais empresas brasileiras denominadas em dólares.

Observe que embora o IBOV esteja fazendo novas máximas, o mesmo não ocorre com tal ETF. A razão é simples: o dólar ainda está muito forte frente ao real. Caso a tese de Zoltan Poszar se materialize, tudo isso poderá mudar rapidamente.

Marink Martins   

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