Qualicorp - Cuidado com a obsessão a reversão à média!

28/08/2018

A recente queda no preço das ações da Qualicorp fez com que eu desviasse a minha atenção do mundo das opções de Petrobras para buscar avaliar se há de fato uma barganha na bolsa brasileira.

Há tempos acompanho as ações da Qualicorp. Em 2012, quando eu atuava na área de relações com investidores da empresa Brasil Insurance, muitos investidores a comparavam com a Qual3; alguns até chegavam a fazer apostas "long/short" entre os dois ativos.

A recente queda no preço da Qual3 definitivamente nos chama atenção. Uma "quasi-monopolista" no segmento de administração de benefícios, a empresa ocupa um lugar importante em um mundo onde o plano de saúde individual se tornou algo escasso. Pelo menos essa era a narrativa que fazia com que alguns analistas a considerassem uma espécie de "jabuticaba" necessária no mercado de saúde brasileiro.

Mas, ao contrário da B3 que é um monopólio natural, a Qual3 é fruto de um marco regulatório assinado no fim da década passada; ela advém de uma "canetada".

Com a inflação médica nas alturas e com ajustes de preços bem acima do patamar definido pela ANS, a Qual3 vem perdendo beneficiários em um ritmo assustador. Observem a tabela abaixo, extraída do ITR do segundo trimestre de 2018:

Com a economia em recessão, muitos indivíduos se viram forçados a migrar para um plano de saúde mais acessível, como aqueles oferecidos por empresas como a Assim Saúde. Além disso, o processo de transição entre planos, normalmente resulta em uma elevação nos recebíveis da empresa que, por sua vez, resulta em um maior nível de inadimplência. Tudo isso culminou no que é conhecido como uma tempestade perfeita para os acionistas da Qualicorp.

Por tudo isso, para avaliar as perspectivas para as ações da Qualicorp, recorro a minha planilha de avaliação, disponível de forma gratuita através do site www.myvol.com.br.

Se assumirmos uma certa estagnação nos resultados da empresa, de forma que o seu lucro por ação para este ano fique próximo a R$1,30, podemos simular um "valuation" assumindo uma taxa de crescimento do lucro de 10% ao ano para os próximos 5 anos, seguidos de um crescimento do lucro de 6% ao ano na perpetuidade. Tudo isso sendo trazido a valor presente a uma taxa de 15% ao ano.

Conforme ilustrado nesta tabela que considero um razoável ponto de partida para uma análise, observamos que o valor projetado para as ações da empresa encontra-se em linha com o valor de mercado.

Naturalmente, é possível conceber um cenário mais benigno onde o lucro por ação da empresa cresça este ano para R$1,50 e que as taxas de crescimento projetado para este lucros sejam melhores (15% para os próximos 5 anos e 6% para a perpetuidade). Tudo isso trazido a valor presente a uma taxa mais amena de 12%. Neste caso, o preço "justo" calculado pela planilha salta para R$32,13, indicando um potencial de valorização de 100%.

Sabe-se que uma planilha de excel aceita todos os desaforos possíveis. Por isso mesmo, ao projetar o valor justo de um ativo, compreenda a sensibilidade do preço calculado as variáveis em questão. Mais importante, desconfie sempre dos pensamentos desejosos ("wishful thinking") e cuidado com a nossa obsessão a reversão à média. Afinal, vivemos um período em que a estratégia baseada em "momentum" vem massacrando a tão celebrada busca por valor.

Marink Martins  


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