Quando a VOL do mercado é reprimida

10/12/2019

Já é notório que em momentos de forte expansão monetária, como o que está em curso no mundo desenvolvido, a volatilidade realizada dos índices de renda variável colapsa.

Isso ocorreu em 2017 - ano marcado pelos expressivos estímulos quantitativos ("QE") promovidos pelo BCE e Banco do Japão. Na verdade, o ano de 2017 registrou o menor nível de volatilidade realizada dos últimos 40 anos na história do índice S&P 500. A volatilidade ficou tão reprimida que culminou em um evento marcante em fevereiro de 2018 que resultou no colapso de um fundo administrado pelo Banco Credit Suisse. Na ocasião a volatilidade disparou, atingindo níveis de 50%.

Abordo este assunto pois o estrategista Mike Wilson, do Banco Morgan Stanley, nos chama atenção ao fato de que algo similar está em curso. Como podemos ver nos gráficos abaixo, a volatilidade realizada nos últimos dias está em um patamar preocupante se assumirmos que este indicador é propenso a um processo de reversão à média.

No gráfico acima, a esquerda, temos a volatilidade realizada nos últimos 30 dias. Já no gráfico a direita, temos a mesma volatilidade realizada vista em um contexto histórico. 

De acordo com Wilson, ao injetar liquidez nos mercados o FED reduz a volatilidade no mercado de operações compromissadas de curtíssimo prazo ("repo market") e, com isso, contribui para reduzir também a volatilidade em outros mercados de risco. Segue um pequeno trecho do texto original onde o estrategista explica tal efeito:

Sendo assim, espera-se que os esforços conjuntos dos bancos centrais continuem a representar uma espécie de "piso" para os mercados, contribuindo para um grau cada vez mais elevado de complacência.

Curiosamente, durante um "mini-pânico" visto nos mercados durante o mês de agosto, a busca através do Google pela palavra "recession" atingiu um pico. Hoje, como podemos ver pelo gráfico abaixo já está tudo normalizado. 


Não há dúvidas que vivemos em um mercado com um elevado nível de artificialidade. Aqueles que viveram nos anos 80 -- época em que ícones como Naji Nahas, Alfredo Grumser e cia, manipulavam os mercados de opções na bolsa do Rio de Janeiro -- hão de se lembrar do elevado nível de volatilidade presente naquela década. Um ajuste expressivo certamente virá, mas, enquanto isso, nos resta especular a respeito dos limites (se é que há algum) para estas políticas expansionistas das autoridades monetárias. 

Marink Martins

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