Quando é necessário mais do que palavras

18/06/2019

Foi-se o tempo em que empresas, como a Petrobras, e instituições, como o Banco Central Europeu, conseguiam mover os mercados com uma simples retórica.

Ontem a Petrobras anunciou uma importante descoberta no Sergipe - classificada pela mídia como a mais importante desde a descoberta do Pré-Sal. Mesmo assim, o preço de suas ações terminou o dia praticamente estável.

No passado, vivi de perto um dos maiores "corners" no mercado de opções brasileiro quando a empresa anunciou as dimensões do poço Tupi em 2007. Alguns meses depois, um anúncio feito pelo então presidente da ANP, Haroldo Lima, destacando as vastas reservas do poço conhecido como "Carioca" também fez o preço das ações disparar. Essa festa dos anúncios durou até o fim de 2008 quando a empresa, nos dias que antecederam ao pedido de concordata do Banco Lehman Brothers, anunciou o tamanho do poço Iara.

Era uma época em que investidores estavam ávidos por informações que corroborassem a tese de que a Petrobras se beneficiaria da materialização  de uma outra tese -- esta conhecida como "Peak Oil". O que ocorreu a posteriori, entretanto, foi muito diferente e frustrante.

Não preciso recontar aqui a trajetória da empresa durante esta década pois até a minha vó sabe o que fizeram com a Petrobras.

O fato é que hoje, pelo menos no que tange a Petrobras, é necessário mais do que expectativa. O mercado quer ver fluxo de caixa.

Assim, um anúncio vindo justamente no dia de vencimento de opções e no início do ciclo de formação de preço para a oferta de ações ordinárias a ser realizada pela Caixa Econômica Federal é, no mínimo, suspeito. A falta de ânimo detectada ontem por parte dos investidores diz muito a respeito do estado de espírito do investidor brasileiro quanto as perspectivas para a oferta da Caixa. Gosto do fundamento da empresa. A mega-oferta, entretanto, pode deixar os investidores em compasso de espera.

Confesso que acho curioso -- neste mundo globalizado que ainda vivemos -- que investidores optem por ignorar alguns ativos enquanto tratam outros como se fossem ouro. Aqui me refiro a boa vontade de investidores quanto aos IPOs americanos e a má vontade dos mesmos quanto a ativos europeus, mercados emergentes, etc.

Há certamente fundamentos ou expectativas que justifiquem isso. É uma questão de descobrir quais são. Neste sentido, vale a pena ler o último relatório publicado pelo gestor da Oaktree Capital Management, Howard Marks, em que ele explora 9 teorias em voga nos mercados. Vou explorar algumas delas por aqui.

Marink Martins

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