Quando o amor acaba, surgem os problemas de governança corporativa
Ele só faz o que quer! Nem sequer nos consulta sobre como agir em determinadas situações!
As colocações de um gestor de um determinado fundo de pensão nova iorquino ao reclamar das atitudes da diretoria da Facebook mais pareciam como uma reclamação entre amigas revoltadas com seus respectivos.
A verdade é que o longo "namoro" entre os investidores globais e as empresas do setor de tecnologia está em crise. De repente, as ações do setor pararam de proporcionar aquela dopamina diária a seus acionistas, e estes começaram a exibir um certo desconforto associado a esta longa "dependência".
Bem, em crise de casal há sempre duas versões. Primeiro vamos falar mal das empresas.
A relação entre a empresa e o acionista é uma um tanto assimétrica. A primeira está sempre fazendo um esforço maior para seduzir o segundo. Por isso, a empresa vive um processo paranoico de remodelagem, buscando tornar-se cada vez mais bela. Em tempos de crise, em um processo de destruição construtiva, ela busca fazer o necessário para recuperar sua fama e beleza.
Veja a Vale. Após uma crise que fez com que suas ações perdessem aproximadamente 90% do valor registrado em seu ápice, se remodelou eliminando as ações preferenciais e estabelecendo recentemente uma nova política de dividendos. Caminha para entrar no Novo Mercado, que nada mais é do que uma espécie de área VIP frequentada pelas ações mais "belas".
Como a natureza odeia os desequilíbrios, a relação entre empresas e acionistas acaba passando por ciclos.
Veja o setor de tecnologia norte-americano. Dispondo de um charme e um alto grau de atratividade, muitas empresas trilharam um caminho oposto a este percorrido recentemente pela Vale. Empresas como a Facebook, SNAP, Tesla, Google, e muitas outras, criaram diversas classes de ações em um esforço para manter o controle de seus respectivos processos decisórios nas mãos dos fundadores.
Embora as partes envolvidas nesta conturbada relação estejam cientes da já mencionada assimetria, sua presença, no longo prazo, gera um problema existencial que o filósofo francês Jean Paul Sartre chamaria de má-fé. Sua consequência é que após um determinado tempo uma das partes se sente sempre enganada.
Agora vamos falar mal dos acionistas! Estes, por serem complexos, exibem um comportamento não linear. Oscilam entre o descaso e a paixão, de forma imprevisível.
Diferentes das formigas, que quando atuam de forma conjunta, exibem uma sabedoria coletiva bem superior à soma da sabedoria individual, quanto maior o número de acionistas menor é o grau de coerência apresentado por eles.
Talvez seja devido aquela antiga lei de Gerson, na qual cada parte deseje levar vantagem sobre o todo. Mas, o fato é que, no fim, os acionistas se apaixonam e tal sentimento resulta em uma organização que nos remete a um esquema "Ponzi"; uma pirâmide.
Enfim, não há vítima nesta relação conturbada. O que há é a presença da vida e suas forças entrópicas que teima em levar tudo de um estado ordenado para um desordenado.
Marink Martins