Quando o medo de perder a alta é maior do que o medo de perder dinheiro

11/04/2019

Após anos de estagnação, o mercado de ações brasileiro vem se expandindo de forma acelerada. Já somos quase um milhão de indivíduos aptos a negociar ações, sendo que um pouco menos da metade deste total consiste de novos investidores que nunca enfrentaram uma período de queda expressiva nas bolsas.

Ontem, o Pedro Cerize, que é gestor da Skopos, discursando pela Inversa Publicações, sugeriu a seus seguidores que reduzissem sua alocação em bolsa ao constatar que o seu principal indicador já não se encontra em patamar tão atrativo como muitos vem propagando por aí.

O que Cerize fez foi chamar atenção do investidor ao fato de que devido as alterações realizadas no cálculo do IBOV em 2014 este, quando comparado com a sua série histórica, nos dá a impressão de que há um potencial de valorização que é superior ao que de fato deve ser considerado.

Diz ele que o mais apropriado é focar na trajetória do índice IBX 100, que por fazer uso da metodologia de capitalização de mercado desde sua criação, apresenta uma análise bem mais consistente do que aquela gerada pelo mutável Ibovespa.

E, ao fazer isso, o que se observa é que o IBX 100 está bem mais próximo do seu topo histórico em dólares do que o IBOV. Juntando este fato a sua visão expressada no título deste texto, Cerize vê uma bolsa um tanto vulnerável.

O que observamos ao ver o gráfico acima é que o IBX 100 já andou bem mais que o IBOV quando comparado ao patamar registrado por ambos em 2008. Sendo assim, o "novo" IBOV (que na verdade é praticamente o IBX) não se encontra tão barato como muitos acreditam. Outros gráficos, utilizando dados fundamentalistas, corroboram esta tese.

Confesso que sorri ao ouvir o "bate-papo" organizado pela Inversa Publicações ontem. Não por estar torcendo pela baixa, mas pelo fato de que sempre expressei o meu ceticismo com esta alta na bolsa. Além disso, quantas vezes o leitor desta newsletter já me viu dizendo por aqui que analisar gráficos de longo prazo é comparar laranja com banana?

Bem, neste sentido, vale dizer que mesmo o consistente IBX 100 apresenta problemas, pelo fato de que, com o passar do tempo, as ações de empresas de sucesso ganharem cada vez mais peso. Isso o deixa enviesado. Talvez seja por isso que o veterano Marcio Noronha goste tanto de olhar para gráficos que são "equal-weight" - um gráfico onde todos os seus componentes tem o mesmo peso.

Voltando a apresentação de Cerize, gostei também quando ele comparou a iminente aprovação da reforma da previdência com um fumante que decide parar de fumar. Disse ele algo como "parar de fumar faz com que a pessoa deixe de piorar; não representa, em si, uma melhora na saúde do cidadão".

Tudo isso soa como música para esta newsletter que tanto promove uma visão tática nos mercados. Nos últimos três dias os acionistas da Petrobras foram contemplados com uma série de notícias positivas: venda da TAG, detalhes da Cessão Onerosa, e outras. Mesmo assim, após uma abertura com ligeira alta, o preço da principal ação da bolsa retraiu em um típico sinal do já conhecido "sobe no boato, realiza no fato".

Continuo bastante otimista com este processo de restruturação que está em curso na Petrobras. Mas, como você muito bem sabe, atuo no mercado de forma não-direcional buscando ganhos através dos prêmios embutidos em contratos derivativos associados as ações da Petrobras.

Essa postura que, na teoria, tende a ser neutra, me permite observar o mercado de uma forma menos enviesada - sem favorecer a alta ou a baixa. E o que vejo neste momento é algo que está em sintonia com a visão apresentada pelo Cerize - uma de que há mais investidores preocupados em não ficar de fora de uma eventual alta do que de receosos em perder dinheiro. E isso ilustra um elevado grau de vulnerabilidade para o mercado de ações brasileiro. Por isso, comece a apertar o cinto! O piloto ainda não sumiu, mas, vai que?!!!

Marink Martins

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