Quando o petróleo sobe, uma parte do mundo chora!

15/04/2019

Imagine você como um observador dos mercados globais situado em uma nave espacial, circulando ao redor do planeta da Terra. Você constata oscilações pontuais em diversos mercados, porém, busca explicá-los de um ponto de vista global - do macro para  o micro.

Bem, o que este observador constatou nesta última sexta-feira é que parece que, na medida em que o preço do petróleo começa a subir, problemas ao redor do planeta começam a surgir.

Nesta sexta-feira, tivemos a queda expressiva no preço das ações da Petrobras, provocada por problemas alheios a tal observador. Para ele, o que realmente chama atenção é que, em 2018, por volta da mesma época do ano, algo muito parecido ocorreu e provocou distúrbios, não só na América do Sul, mas também em outras regiões que necessitam importar derivados do petróleo.

O fato é que quando o preço do barril de petróleo brent sobe para níveis próximos a US$75, muitos dos usuários de seus derivados - como é o caso dos caminhoneiros do Brasil - começam a reclamar e a provocar disrupções na economia. Temos aí não só a influência do preço do petróleo, mas também a do valor relativo do dólar.

Para Jeffrey Cury, da Goldman Sachs, um brent a US$75 hoje provoca um impacto mais doloroso ao Brasil, e a outros países importadores de derivados, do que quando o preço do barril estava acima US$100 no início desta década devido justamente ao fator cambial.

Abordo esta questão do ponto de vista macroeconômico justamente para enfatizar o fato de que, aos poucos, este equilíbrio global que vem promovendo fortes valorizações nos ativos de países desenvolvidos começa  a mostrar suas vulnerabilidades.

No caso do petróleo, não posso deixar de destacar que, no mesmo dia da derrocada no preço das ações da Petrobras, a Chevron fez uma oferta de compra pela petrolífera Anadarko. Observe um gráfico comparando o comportamento entre o preço das ações das empresas de exploração integradas, como Exxon e Chevron, com o preço das empresas perfuradoras ligadas a serviços, como Halliburton e Schlumberger, e você ver que, desde o início de 2016, o mundo reduziu seus investimentos em exploração.

No gráfico acima, observamos como as ações das empresas exploradoras registram uma performance bem superior as empresas de serviço desde 2015. Por diversas razões, o mundo "parou" de perfurar e isso é um prenúncio de volatilidade no futuro.

Talvez seja por receio de novas tecnologias disruptivas como fracking, ou mesmo, avanços no uso de baterias solares, mas o fato é que, nos próximos anos, devemos estar preparados para oscilações mais bruscas que, certamente, provocarão distúrbios em diversos pontos do planeta.

Na sexta-feira, Alan Greenspan, do alto de seus 93 anos, em entrevista concedida à CNBC, disse que o PIB norte-americano cresce 1% para cada 10% de apreciação no índice S&P 500. Isso é algo inusitado e assustador.

O fato é que qualquer oscilação brusca nos 3 principais preços da economia global - o dólar, o petróleo e o juros americano - irá trazer volatilidade. 

E, para você que acompanha o meu trabalho e leu o que escrevi sobre o ponto de volatilidade crítica, já sabe que um aumento na expectativa de volatilidade quase sempre é indicador de queda nos mercados. 

Testemunhamos brevemente o sabor de um forte recuo nos mercados durante o período natalino, mas o "incêndio" foi rapidamente apagado por um FED que mudou de lado - de "hawkish" para "dovish".

Muitas vezes ignoramos alguns sinais do mercado!

Nesta sexta-feira o preço das ações da Petrobras caiu 8%, mas poderia ter caído 20%! E se tivesse caído 20%, qual seria o impacto em sua carteira de investimentos? Qual seria o impacto em sua vida? Qual seria o impacto em sua capacidade de honrar com os seus compromissos? É justamente este tipo de teste de estresse que todos os participantes do mercado devem fazer neste momento.

Marink Martins

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