Quando o RABO balança o CÃO!

28/06/2019

Escrevi este texto no dia 8 de fevereiro de 2018, logo após aquele salto na volatilidade global que culminou na quebra de um fundo do Banco Credit Suisse que tinha como foco um produto chamado XIV - Inverse Volatility ETF.

Estou, neste momento, escrevendo um outro texto que irei publicar hoje. Entretanto, peço que você leia este com calma para que tudo faça sentido. Existe um risco crescente associado a emissão de COEs (certificado de operações estruturadas) globais que poderão resultar em algo ainda mais grave do que o ocorrido no ano passado. Já envio para vocês!

Em uma época distante, quando os empregos mais disputados eram aqueles associados ao mundo das finanças, os mercados atraíam tudo quanto é engenheiro. Barack Obama, em seu discurso de posse, chegou a reclamar desta situação ao dizer que os EUA necessitavam de engenheiros dispostos a atuar como engenheiros e não como financistas.

Pois é, houve uma época em que a engenharia financeira reinava. A capacidade de desenvolvimento dos financistas era tamanha que os reguladores estavam sempre a uns dez passos atrás. E foi exatamente nesta onda que surgiram produtos como o VIX (uma medida de expectativa de volatilidade associada ao índice S&P 500) e o Credit Default Swap (CDS); este último uma espécie de seguro contra a inadimplência de um devedor. Ambos, não só foram revolucionários, como também deram dinamismo aos mercados.

Quem assistiu ao filme A Grande Aposta já está muito bem familiarizado com os benefícios e os riscos associados ao CDSs. Como ocorre frequentemente com produtos desenvolvidos em Wall Street, tais produtos trazem consigo a semente de sua própria destruição ou, em muitos casos, a semente da destruição do sistema financeiro como um todo. Não fosse pelo resgate do governo americano à seguradora AIG, o sistema financeiro teria entrado em colapso devido as vendas excessivas de CDSs feitas pelo trader Joseph Cassano através da filial britânica da seguradora americana. O grande problema associado a estes produtos é a sua capacidade de deixar, tanto o fornecedor como o consumidor, intensamente viciados.

E o VIX fez exatamente isso. Desenvolvido originalmente para ser "sintoma", este foi transformado em "causa" por financistas de plantão. Deixem eu explicar melhor usando a analogia mencionada no título acima.

Imaginem o mercado de ações como um cão com seu respectivo rabo. Ambos oscilam; o primeiro para cima e para baixo, e o segundo em um gingado particular. O rabo se mexe em uma intensidade que varia de acordo com o gingado do corpo do cão. A intensidade deste balançar é análogo ao papel desempenhado pelo VIX com relação ao comportamento do índice S&P 500. O VIX mede a expectativa da intensidade deste "gingado"!

Aí vem os financistas e desenvolvem um produto no qual investidores podem diretamente fazer apostas na intensidade de tal "gingado". O produto é bom e logo atrai multidões que passam a ganhar dinheiro apostando que o "rabo do cão" tende a balançar cada vez menos. Por anos investidores apostaram em tal produto, de forma que o que era para ser uma consequência, passou a ser uma causa. O balançar do "rabo" passou a ditar o comportamento do "cão"!

Tudo isso pode parecer estranho, mas os derivativos trazem consigo esta capacidade de inversão de papeis.

A intensa venda de ações ocorrida no fim da tarde de segunda-feira foi uma consequência de apostas excessivas em produtos desenvolvidos para que participantes se protegessem de movimentos bruscos nas próprias ações. As perdas nos derivativos se tornaram a causa das perdas nos preços das ações. Algo tão louco que, honestamente, julgo fascinante.

Conforme escrevi ontem, logo foi formada uma força-tarefa dedicada exclusivamente para acalmar os ânimos de investidores assustados. E eles conseguiram. Os otimistas dirão que tudo isso foi pontual e que o ocorrido foi fruto da insanidade de poucos.

Pode até ser que tenha sido mesmo. O que eles não te informam, entretanto, é que o total de contratos derivativos vigentes é tão grande que chegará um ponto em que não saberemos quem realmente deriva de quem.

E pensando nisso te deixo com a seguinte pergunta:

Quem exerce maior influência sobre o preço das ações da Petrobras?

  • Os negociadores das ações
  • Os negociadores dos derivativos (opções)

Marink Martins

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