Quando os preços se distanciam muito dos fundamentos

10/01/2020

Neste último dia da semana quero compartilhar com você alguns gráficos que ilustram uma semelhança perigosa entre o momento de mercado atual e aquele vivido no fim dos anos 90 - momento que posteriormente ficou conhecido como a bolha do Nasdaq.

Os gráficos abaixo são oriundos de fontes como a Gavekal, o Wall Street Journal e o Zero Hedge. 1. Percentual das empresas listadas nos EUA que vêm registrando prejuízos contínuos nos últimos 3 anos: 

A linha verde escura representa todo o mercado. Já a linha verde clara as "small caps" enquanto a amarela as "large caps". Não é à toa que o estrategista Mike Wilson, do Morgan Stanley, vem clamando que o grande risco do mercado está associado as "small caps". Assim como em 1999, a busca pelo LUCRO parece que está saindo de moda. 

2. Percentual das empresas que registravam prejuízos no momento de seus respectivos IPOs:

Aqui a semelhança com a bolha de 1999 é gritante. O fiasco com o IPO da empresa WeWork - aquele que não se materializou - jogou um banho de água fria no lançamento de ações. Mesmo assim, a retomada dos estímulos monetários feita pelo FED vem contribuindo para manter as ações "large caps" em uma clara tendência de alta.

3. Será que o tal "reflation trade" muito discutido por aqui será postergado?

Com os EUA incorrendo em um enorme déficit fiscal ao mesmo tempo em que o FED "imprime" moeda, havia um consenso de que o dólar iria derreter, e com isso, ativos cíclicos como commodities e ações de mercados emergentes iriam se valorizar ("reflation trade"). Como podemos ver no gráfico acima, o mercado até que ensaiou tal movimento, mas preferiu voltar a apostar no que vem dando certo nos últimos anos - ativos norte-americanos.


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4. Colapso no volume de ações vendidas a descoberto: 

Observe que o percentual das ações vendidas a descoberto no SPY (ETF atrelado ao S&P 500) está na mínima de dois anos. É comum que altas expressivas sejam provocadas por um movimento de zeragem dos vendidos. O gráfico nos leva a pensar que este movimento já ocorreu.

5. Clara divergência entre o preço dos ativos e o lucro projetado:

Acima temos, de forma clara, a alta expressiva registrada pelo índice Dow Jones Industrial Average (linha verde). Na linha vermelha, temos o lucro por ações projetado para os próximos 12 meses. Observe que o índice vem se apreciando mesmo com as expectativas de lucros se deteriorando.

6. Seria o FED responsável por todas estas distorções?

O FED respondeu ao estresse visto no mercado de operações compromissadas ("repo market") em setembro de 2019 com uma mega injeção de liquidez, conforme ilustrado no gráfico acima. Tal injeção não só vem contribuindo para uma valorização expressiva no mercado de ações mas também para um colapso na volatilidade vista no mercado de ações.

7. A relação entre o valor das empresas e suas respectivas receitas é reminiscente daquela observada na bolha do Nasdaq:

Acima temos a relação entre o VALOR DA FIRMA (EV - entrerprise value) e a receita das empresas nos últimos 12 meses.

O otimista com o mercado é aquele que tem fé na premissa de que o FED injetará liquidez ad infinitum - uma possibilidade que certamente não deve ser desprezada! (ouvido por aí)

8. Os "spreads" corporativos já não condizem com os fundamentos:

O gráfico acima é ilustrativo do descolamento entre os "spreads" e a capacidade de pagamento das próprias empresas. Tudo isso ocorre devido ao caráter manipulativo das injeções de liquidez feitas pelos bancos centrais. 

Marink Martins

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