Quantas vezes a performance da Bershire Hathaway (Warren Buffet) ficou atrás da do Índice S&P 500?

30/08/2017

Inúmeras. De acordo com Corey Hoffstein, fundador da Newfound Research, caso a Berkshire Hawthaway tivesse sido organizada como um fundo de investimentos provavelmente o fundo teria sofrido maciços resgates em momentos de adversidades, de forma que seu tamanho provavelmente seria bem inferior ao registrado atualmente. Hoffstein fez esta afirmação em um debate no qual buscava ressaltar a importância de ter uma empresa financiada via capital permanente (ações).

O início da Berkshire Hawthaway como veículo de investimentos de Warren Buffet é curioso e revelador. Entre 1962 e 1968, Warren Buffet surfou como ninguém a onda de valorização das ações americanas e transformou US$1 em U$12 para seus clientes que, até então, investiam seus recursos através de carteiras administradas. Em 1968, entretanto, Buffet estava cético com relação a continuidade do movimento de apreciação no preço das ações e resolveu fazer algo inusitado: devolver os recursos aos clientes, oferecendo-os, porém, a possibilidade de conversão de seus recursos em ações de duas empresas; uma delas, a empresa de tecelagem de Boston, Berkshire Hathaway. Na época, ele administrava aproximadamente US$100 milhões, sendo que US$25 milhões destes, eram recursos próprios. De lá para cá, o crescimento foi exponencial, registrando um retorno médio anual próximo a 20% ao ano. Mesmo assim, quando comparamos a performance das ações da Berkshire com a performance do índice S&P 500, vale ressaltar que a primeira já "under-performou" o segundo por mais de 30% em 6 ocasiões. Seu pior ano, em termos relativos, aconteceu na época do "boom" do Nasdaq, no fim dos anos 90, quando a Berkshire ficou para trás 56%!!! De acordo com Hoffstein, se a Berkshire fosse um fundo, não teria sobrevivido. Talvez, Hoffstein esteja exagerando. Mesmo assim, seu argumento é válido para entendermos que Warren Buffet não é conhecido como o Oráculo de Omaha à toa. Tendo crescido nos anos 30, época da grande depressão americana, Buffet, assim como Ed Thorp, cresceu com o conceito de antifragilidade registrado em seu DNA. Ambos são uma prova do que é conhecido como epgenética! Tendo nascido na mesma época, mas tendo seguido um caminho diferente, Julian Robertson da Tiger Management não pode desfrutar da mesma resiliência de seu parceiro de Omaha. Lembro-me bem como a mídia financeira durante o fim dos anos 90 proclamava o fim de Warren Buffet, Julian Robertson e George Soros. Por um outro lado, Alan Greenspan era enfatuado como o grande maestro.

A mensagem aqui é a seguinte: é importante alinhar o "funding" com a estratégia colocada em prática. No filme A Grande Aposta baseado no livro de Michael Lewis (The Big Short), o autor nos conta a história do médico Michael Burry, fundador da Scion Capital e amante do "value investing". Diz o autor que uma típica operação do Scion Capital consistia em comprar uma ação subavaliada por US$12, vê-la cair para aproximadamente US$6, e vendê-la por um preço acima de US$20, após um período longo o suficiente para que o mercado começasse a ver o que somente Michael Burry enxergara anos antes. O gestor fez sua reputação e recebeu mandato para administrar desta forma. O doutor, entretanto, nunca foi muito adepto às regras. Quando começou a pesquisar sobre oportunidades ligadas ao "subprime" no fim de 2004, foi com tudo em uma operação que muito se desviava do seu mandato inicial. O fim da história já é conhecido e Michael se tornou uma celebridade. Entretanto, os mais atentos a história, notam que, por muito pouco, devido a falta de uma estrutura de capital mais permanente, a Scion Capital não fora extinta. A história é feita de detalhes e quem sou eu para questioná-las. Mesmo assim, há sempre espaço para aprendizado.

Marink Martins, CNPI 

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